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segunda-feira, 21 de dezembro de 2020
domingo, 16 de agosto de 2020
Socialização, Saúde Mental e inércia no contexto de pandemia.
A ausência desse contato, para além da socialização familiar, aleija a vida. E as pessoas, depois de mais de quatro meses tentando, aos trancos e barrancos, se manter distantes das outras formas de socialização, começam a sentir as consequências: estresse, irritabilidade, solidão, tristeza e depressão. Sei disso porque sou professor e observo, mesmo a distância, os sinais que meus alunos dão.
Hoje, vemos shoppings centers, praças e praias lotadas de gente. A primeira tendência daqueles mais conscientes, diante deste atual cenário, é julgar e condenar os outros que querem sair de alguma forma. É até compreensível, tendo em vista que, culturalmente, não somos reconhecidos como um povo consciente.
Hoje, me despindo de qualquer carga de moralismo, como professor, eu diria para os pais de meus alunos: levem seus filhos para espaços de socialização. Mas levem em segurança, com distanciamento e com os cuidados que vocês já sabem bem quais são. Se o ambiente tem outras pessoas que não são conscientes e responsáveis, se afastem. Mas não deixem mais seus filhos dentro de casa por muito tempo.
O que vale para a família, em relação a este conselho, também vale para a Escola. É possível, sim, voltarmos aos poucos de forma segura e controlada.
O problema é que, em se tratando (principalmente) de educação pública, nosso sistema educativo não está preparado para esse retorno, assim como não está preparado para outras mudanças necessárias que o contexto de pandemia está exigindo das instituições de ensino. Digo isso porque sou estudante de uma instituição pública e conheço a ineficiência ou má vontade, mesmo depois de quatro meses, em estabelecer um plano de ação de retomada de atividades de forma segura e responsável.
O sistema público brasileiro se acostumou com a lógica de oferecer serviços e realizá-los da forma mais fácil e simples possível. Por isso, permanecemos ainda inertes. É mais fácil simplesmente parar as atividades. E permanecer parados até sabe-se lá quando. Difícil é não se resignar.
A mesma lógica acontece com o problema da seca no nordeste. Entra governo, sai governo e a lógica da relação com a seca permanece: é preciso combater a seca e não conviver com ela. O mesmo vale para a pandemia do coronavírus, que é uma realidade que chegou para ficar, não tenho dúvidas.
Até quando permaneceremos inertes e irresponsáveis diante das consequências sociais, culturais e psíquicas de tantas crianças, adolescentes e jovens brasileiros?
sábado, 8 de agosto de 2020
MEMÓRIA DE UMA MISSÃO: SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA E DOM PEDRO CASALDÁLIGA
“VIDAS PELA VIDA. VIDAS PELO
REINO!”
dom Pedro Casaldáliga
Bispo da prelazia de são
Félix do Araguaia
Mato Grosso – BRASIL
Desde o
primeiro momento que pisei nestas plagas mato-grossenses o espírito profético
desse grande homem – Pedro Casaldáliga – se fez presença atuante e viva.
Realmente as distâncias são imensas.
A prelazia de São Félix do Araguaia é uma região localizada ao norte do Estado
do Mato Grosso com 150.000 Km2. Só se tem noção destas distancias quando se
percorre, mesmo que uma pequena parcela, deste imenso território de missão.
Para chegar até o lugar onde passei
as duas semanas de missão tive que sair de Goiânia, de onde me dirigi para
Canarana, já no Mato Grosso. Desta cidade dirigi-me para Querência, uma
cidadezinha ainda menor, formada por retirantes do Sul do País, que acolhia a
100 Km de sua sede os quatro assentamentos que se tornaram referência para mim.
O sistema de transporte rodoviário,
desde Canarana, se mostrou totalmente precário. Era difícil de acreditar que o
ônibus naquele estado pudesse agüentar os 200 Km que ligavam Canarana a
Querência. As estradas nem se falam. O que sobrava do asfalto se juntava aos
buracos e à terra vermelha da região.
No Caminho a realidade da região se
descortinava. Eram camponeses que iam e vinham das diversas cidadelas. Famílias
indígenas com suas mulheres carregando no colo sempre suas crianças que calavam
o choro com a ordem do pai, sempre melhor vestido.
Uma região exclusivamente agrária,
onde a presença das grandes fazendas latifundiárias é tão marcante que chegam a
configurar e interferir visivelmente na geografia.
Me escandalizei ao percorrer duas
horas de ônibus dentro de uma mesma fazenda. E, por incrível que pareça, um
camponês falou que aquela fazenda não era tão grande em comparação a outras que
existem na região. Milhares e milhares de hectares desmatados por causa das
lavouras, geralmente de soja.
Grande parte da fonte de renda se
concentra em trabalhos nestas grandes fazendas latifundiárias, onde já foi
detectada a presença da exploração de mão de obra escrava. Esses grandes
latifúndios, na maioria das vezes, se revelam de forma oculta e silenciosa,
como verdadeiros instrumentos de opressão e morte de tantos camponeses pela
falta de opção, e de tantas nações indígenas que são cada vez mais espremidas e
esmagadas pelo latifúndio.
Graças ao trabalho da prelazia e a
algumas instituições que ajudam a pensar soluções para esses problemas, muitas
coisas já foram feitas, mesmo que a custa do sangue derramado de tantas e
tantas vidas. Por causa de trabalhos como esses, nações indígenas hoje são
olhadas com mais seriedade e responsabilidade; fazendas latifundiárias foram
desapropriadas e distribuído terra a quem não tinha.
Mas tudo o que já foi feito parece
ser pouco diante da imensidão de problemas e desafios que esta região comporta.
A aquisição dessas terras por parte
das famílias e a forma de lidar com ela é um pouco complicada. Geralmente são
terras nativas, cheias de árvores e animais silvestres. É comum encontrar nos
assentamentos bichos como onça, sucuri, jacaré, capivara, veado, tatu, etc...
Para o plantio é necessário que esta
terra nativa seja tratada e preparada, por ser de uma qualidade “não muito boa”.
E, para isso, são necessários recursos financeiros, de que nem sempre as
famílias dispõem.
Este é um grande desafio, pois já
está mais que comprovado que não basta só distribuir terra se não se oferece o
mínimo necessário para que o lavrador possa fazer esse pedaço de terra, que é
seu, produzir.
Aí entra um outro grande problema. O
INCRA que é o órgão federal que deveria organizar a distribuição das terras de
forma igualitária, bem como os recursos federais para o pequeno lavrador, age
de forma descarada e corrupta, junto com as prefeituras, desviando grande parte
dos recursos, que deveriam beneficiar os assentamentos, sabe-se lá para onde.
Chego às vezes a pensar que esses
recursos financeiros quando chegam nas mãos do lavrador não bastam,
independentemente da quantia, por incrível que pareça.
Muitos usam o dinheiro, que era para
ser usado no trato da terra, de forma desordenada e irregular. Isso sem falar
na necessidade cega de se plantar para se produzir cada vez mais, com mais concorrência,
com mais ganância, mais e mais... com isso, cada vez mais, milhares e milhares
de hectares de matas são queimadas e desmatadas, dando assim, continuidade ao
sistema de fazendas, só que agora em parcelas menores.
Não! Acho que a reforma agrária não
é isso. A reforma agrária é muito mais do que distribuição de terra e dinheiro.
A reforma agrária é consciência comunitária, é consciência humana, ecológica e
fraterna. Penso que é exatamente neste ponto que as vidas são doadas pela Vida,
pelo Reino. É neste momento que posso falar e citar tantos homens e mulheres
que doam suas vidas junto a essa realidade por uma causa que é maior que
qualquer ideologia.
Mas a base de toda atividade
pastoral da prelazia está no silêncio e no anonimato dos agentes inseridos nas
realidades de cada comunidade, vila ou assentamento.
Eu, nestas semanas de missão, tentei
me inserir junto à realidade de três irmãs Capuchinhas Missionárias: Maria
José, Núbia e Elismar; que vivem na fraternidade Margarida Alves no
assentamento Coutinho União. Elas, juntas com alguns moradores dos
assentamentos, prestam assistência no que for necessário a cada realidade
particular.
Junto ao trabalho e estilo de vida
destas irmãs experimentei o que chamarei de “utopia da vida religiosa”. Nada
mais próximo ou mais distante dos assentamentos. Assim vivem essas religiosas,
e creio que a maioria dos agentes de pastoral da prelazia. Com um estilo de
vida dinâmico e criativo, de acordo com cada necessidade, elas vivem sua consagração e vida respeitando os
limites de cada pessoa dos assentamentos, assumindo os desafios, dificuldades e
alegrias como se fossem seus – o que na verdade são. Mas nem por isso deixam de
ser uma presença que questiona, anima, trabalha e celebra.
Penso que nenhuma ação pastoral é mais eficaz que aquela capaz de se inserir
concretamente na realidade local, dinamizando com maturidade e responsabilidade
o testemunho, que se dá a partir da opção de vida própria do religioso e
religiosa e seu carisma.
De forma lenta, anônima, mas sólida o agente de pastoral vai incutindo no
meio da comunidade, vila ou assentamento o espírito evangélico dos libertados,
marcado radicalmente pela acolhida e pelo Amor fraterno a todos e a todas, sem
distinção de raça, cor ou credo.
As “casas das equipes”, como são chamadas as casas pertencentes à
prelazia onde residem os agentes de pastoral, estão sempre abertas, prontas
para acolher a qualquer hora, qualquer pessoa que chegue e peça ajuda, ou mesmo
para uma visita ou conversa de fim de tarde.
Elas se refletem, de forma muito parecida, com a residência do bispo, na
simplicidade na acolhida e na humildade, muito diferente do que estamos
acostumados a ver pelo Brasil e pelo mundo afora.
Dom Pedro – faço questão de chamá-lo assim, apesar dele preferir somente
Pedro – conserva uma serenidade impressionante. A lucidez de suas colocações e
posições em relação à igreja e à sociedade são muito mais atuais que muitas
posições caducas de hoje em dia. Me marcou profundamente sua acolhida e sua
disponibilidade em servir a todos, de todas as formas possíveis. Um místico com
um olhar penetrante e profundo, que me parece ir além das coisas visíveis.
Em sua casa, em sua presença tudo respira um ar de paz e profecia. Alias,
esse foi o ar que respirei ao longo dessas semanas. Um ar que penetrou como
testemunho, fé e serviço o seio de toda nossa igreja, particularmente da igreja
latino-americana e brasileira. Um ar que ainda hoje, apesar das intenções
contrarias pessoais e institucionais, continua e penetrar e a inundar os
corações de tantos irmãos e irmãs fieis ao espírito de Jesus Cristo que se
manifesta na presença questionadora dos pobres.
No coração permanece a lembrança e as cicatrizes dos corações de tantas
pessoas, pelo peso da opressão e do descaso nesta bendita terra de missão, mas,
sobretudo a certeza de que levo um pouco do fogo que ainda queima com força
esses mesmos corações sedentos de Justiça, Dignidade e Paz.
Com o braço e coração erguidos, não em sinal de despedida, mas de bênção
ou talvez de até logo, está aquele grande homem na porta de sua simples casa. Ele
que soube como ninguém doar sua vida pela Vida, sua vida pelo reino. É
inevitável a lembrança do abraço apertado e fraterno de Dom Pedro, carregado de
Paz e acolhida exclamando para mim: “Zé Wilson, seja fiel, aos pobres”.
José Wilson Correa Garcia
São Félix do Araguaia, 25 de Dezembro de 2004.
segunda-feira, 20 de abril de 2020
NÃO BASTA SABER O QUE FOI O AI-5: É PRECISO CONHECER SEU CONTEXTO.
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domingo, 19 de abril de 2020
EMAÚS EM TEMPOS DE PANDEMIA
domingo, 12 de abril de 2020
CARREGADORES DE CAIXÃO DE GANA: UM OLHAR ANTROPOLÓGICO POR TRÁS DO MEME.
domingo, 5 de abril de 2020
O ISOLAMENTO FORÇADO PASSARÁ
terça-feira, 24 de março de 2020
UM ANO DE SAUDADES DA BIA
Em todo caso, sinto saudades e queria ter tido a oportunidade de olhar mais pra você. Observar melhor como devem ser os anjos aí no céu. De como eles têm dificuldade de andar por causa das asas. Voando sempre, devem se sentir solitários por não conseguirem estar sempre juntos dos demais. Talvez a vantagem de tudo isso seja o fato de eles poderem olhar melhor sempre do alto e, talvez, contemplar o todo, enquanto os outros só observam as partes.
Sinto saudades e queria ter tido mais uma oportunidade de abrir a porta da sala depois da aula, empurrado sua cadeira e sentado mais uma vez ao seu lado no recreio. Há um ano eu tive que dividir essa tarefa com os seus mais novos amigos, os arcanjos. Imagino que Gabriel e Rafael tiveram que trabalhar juntos, não só para te levar, mas também para construir as rampas entre as nuvens de algodão doce. É que aí no céu não é como aqui na terra, ninguém fica triste porque não consegue ir a algum lugar. Agora você deve estar em todos os lugares, Bia.
Nossa Senhora, que costuma observar sempre sentada como você, a movimentação no céu e aqui embaixo, deve sempre fazer companhia a você, nos momentos em que sentiu saudades de sua família e dos seus amigos. Imagino que essa saudade já se transformou em paz, que ainda não aprendemos aqui.
Eu, daqui debaixo, continuo me permito sentir um pouquinho de egoísmo por querê-la perto de nós. Mas também me permito olhar para o céu e ver os rastros brancos - como as nuvens - deixados por sua cadeira e por seu novo par de asas, olhando feliz pra nós que continuamos nos esbarrando desajeitados uns nos outros.
Saudades, Bia!
sábado, 21 de março de 2020
UM DIÁLOGO SOBRE A PANDEMIA ENTRE UM PROFESSOR E UMA EX-ALUNA
“Assim como ele também diz que é natural do ser humano, diante de algo desconhecido, buscar abraço. E isso é justamente o que não podemos fazer.”
“É desesperador, porque o sentimento de impotência tende a tomar conta de nós. E sem um abraço pra acalmar ou um aperto de mão pra sentir o outro ali, lutando também, dá uma sensação de ‘é cada um por si’.”
“Só queria que as pessoas entendessem a gravidade, para obedecerem.”
Amo você!
domingo, 15 de março de 2020
ABERTURA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE NA ESCOLA UNECIM
Eu, caracterizado de indigente e deitado desde cedo no chão em frente ao portão, pude ouvir e sentir as muitas reações: de medo, de susto, de raiva, mas também de compaixão, depois de surpresa e também de emoção.
Eu disse para todos que a compaixão sentida pelo Bom Samaritano, ao ver o homem caído no chão, é escrita no texto bíblico original com uma palavra que designa o sentimento que a mãe grávida tem pelo filho que está no próprio ventre. É sentir a vida do outro a partir do mais profundo do nosso interior, de nossas entranhas.
No dia que conseguirmos esse grau de empatia pelo próximo o mundo será completamente diferente e melhor.