terça-feira, 24 de março de 2020

UM ANO DE SAUDADES DA BIA


Foi há exatamente um ano, dois dias depois do meu aniversário, que Deus te levou, Bia. Você sabe que naqueles dias tive sentimentos confusos. Não sabia se assumia a dor e o egoísmo por querê-la mais perto de nós. Ou se agradecia a Deus por ter nos dado um anjo especial. Talvez as duas coisas...

Em todo caso, sinto saudades e queria ter tido a oportunidade de olhar mais pra você. Observar melhor como devem ser os anjos aí no céu. De como eles têm dificuldade de andar por causa das asas. Voando sempre, devem se sentir solitários por não conseguirem estar sempre juntos dos demais. Talvez a vantagem de tudo isso seja o fato de eles poderem olhar melhor sempre do alto e, talvez, contemplar o todo, enquanto os outros só observam as partes.

Sinto saudades e queria ter tido mais uma oportunidade de abrir a porta da sala depois da aula, empurrado sua cadeira e sentado mais uma vez ao seu lado no recreio. Há um ano eu tive que dividir essa tarefa com os seus mais novos amigos, os arcanjos. Imagino que Gabriel e Rafael tiveram que trabalhar juntos, não só para te levar, mas também para construir as rampas entre as nuvens de algodão doce. É que aí no céu não é como aqui na terra, ninguém fica triste porque não consegue ir a algum lugar. Agora você deve estar em todos os lugares, Bia.

Nossa Senhora, que costuma observar sempre sentada como você, a movimentação no céu e aqui embaixo, deve sempre fazer companhia a você, nos momentos em que sentiu saudades de sua família e dos seus amigos. Imagino que essa saudade já se transformou em paz, que ainda não aprendemos aqui.

Eu, daqui debaixo, continuo me permito sentir um pouquinho de egoísmo por querê-la perto de nós. Mas também me permito olhar para o céu e ver os rastros brancos - como as nuvens - deixados por sua cadeira e por seu novo par de asas, olhando feliz pra nós que continuamos nos esbarrando desajeitados uns nos outros.

Saudades, Bia!

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