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quarta-feira, 26 de agosto de 2015

QUAL A VANTAGEM DE SER JOVEM E CONSERVADOR?

Há uma tendência, mais ou menos generalizada, de uma parcela da juventude hoje se apegar a conjuntos de ideologias, crenças e visões de mundo marcadas por legalismos extremados e conservadores. Aqueles mesmos que oferecem sempre respostas prontas, à custa da supressão de uma liberdade conquista de forma tão cara... quando não se precisa pensar, desde que você pense de acordo com o que se diz para pensar ou  que aja da forma como se diz para agir. A ideia é suprimir toda incoerência que nasce da liberdade da pessoa para se estabelecer uma ordem social, moral, religiosamente pura, sem manchas, sem pecado. Em um mundo assim, não há lugar para o “pecado”, não há lugar para a humanidade, não há lugar para o erro... Suprime-se tudo que é humano, tudo que leva a pecar, o corpo, a carne, o coração, o erro... exalta-se tudo que é “divino”...

Nietzsche, que é um desses filósofos que viveram há alguns séculos atrás, porém, nunca morreu, pois seu pensamento continua soando aos ouvidos como um címbalo desconfortável, foi um dos primeiros a perceber e alertar para esse perigo: de que quando se tem muita necessidade de afirmar perfeições aparentes, é porque o que realmente importa já foi abandonado, esquecido, morto... Dizendo de outra forma, o homem moderno aprendeu a esquecer de Deus. Quis ser tão perfeito que sua perfeição não foi suportada nem pelo próprio Deus. Era o que Nietzsche chamava de Niilismo, isto é, o esvaziamento dos valores.

Esse é o perigo que vejo no coração e na mente de muitos jovens apegados, desordenadamente, a conservadorismos exacerbados, jogando fora aquilo que de mais sagrado tem, sua paixão, sua força vital de transformar, sua liberdade... Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que perde sua liberdade, afirma-se o individualismo, o egocentrismo... Ser você, e só você, mas desde que dentro de uma fôrma. Essa é a proposta...

Por outro lado, eu até entendo o que se passa no coração de muitos desses jovens. Hoje, a falta de referências que testemunhem uma vida de sentido é um tapa na cara. Parece não haver mais referências sociais, políticas, religiosas... Nossos heróis já não existem mais ou, se existem, se tornaram humanos demais... Eu entendo isso.

Porém, a falta de referenciais não é necessariamente falta, é distanciamento, esquecimento, como já alertava Nietzsche... Nesse mundo louco de informações contraditórias e híbridas, esquecemos e nos distanciamos do essencial. Nesse cenário é fácil ser pescado por qualquer proposta aparentemente mais fácil, rápida ou prazerosa. Ainda mais se acompanhada de alguém que saiba convencer pelo discurso... Para um jovem crítico, indignado, sedento por novidade, gente como Olavo de Carvalho, Silas Malafaia, Jair Bolsonoro, cai como uma luva. Eles, esses patifes da pós-modernidade, têm tudo o que esse jovem, aparentemente e por um tempo bem determinado, precisa: respostas prontas, cheias de ódio, preconceitos e falácias... Mas não as suportam por muito tempo... Ou seja, eles matam os deuses que criaram, pois não se sustentam mesmo, e logo em seguida se sentem perdidos... Há vazios que se preenchem, outros que permanecem vazios infinitamente...

Há, porém, aqueles que continuam afirmando sua vida, sem moralismos, sem subterfúgios conservadores, sem niilismos... Esses não buscam referenciais, pois suas referências nunca saíram de dentro deles... Esses, quando falam são ouvidos, quando apontam são seguidos, quando gritam são respeitados...

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quarta-feira, 9 de julho de 2014

O REACIONARISMO POLÍTICO

Enfrentar o atual sistema político, que conserva fortes heranças da ditadura é algo que as forças de direita não aceitarão, em nenhuma hipótese.

OS ATAQUES do articulista da revista Veja, Rodrigo Constantino, detonando o Plebiscito Popular sobre uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político mostram o pavor que a direita tem desta proposta.

Quando a presidenta Dilma lançou a proposta de um Plebiscito legal que decidisse a convocação de uma Constituinte, o pensamento reacionário cerrou fileiras. O ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, porta-voz do pensamento de direita mediatamente afirmou: “Fui dormir na Espanha e acordei na Venezuela”. Foi a senha para que se desatassem discursos irados acusando o Plebiscito de “golpe”.

Os mesmos ataques grotescos ocorrem agora diante do Decreto Federal no 8.243 de 2014 que cria a Política de Participação Social. A iniciativa que estabelece limitados mecanismos para acompanhar a formulação, a execução, o monitoramento e a avaliação de programas de políticas públicas, também foi chamada de “golpe bolivariano” por parlamentares e articulistas da revista Veja.

Qualquer iniciativa para ampliar a democracia desperta um verdadeiro pânico no pensamento de direita. Tocar no sistema político é o mais grave dos pecados.

A direita sabe que o descontentamento com a falência do atual sistema político esteve presente nos milhares de pequenos cartazes, palavras de ordem e pichações das manifestações de junho de 2013. Sabe que uma palavra de ordem como a Constituinte Soberana do Sistema Política pode ganhar força e se tornar uma ameaça real ao seu poder.

Para tanto, utiliza a tese de que a bandeira da Constituinte é um mero jogo do PT para manter-se no governo. Ou, nas suas palavras, “servir ao projeto do PT”. Ignoram, propositalmente que a campanha é muito mais ampla e que congrega a maior parte das forças de esquerda.

Ignoram o apoio da candidata à presidência do PSOL, Luciana Genro, da deputada Luiza Erundina do PSB, de inúmeros artistas e intelectuais. Jamais mencionam que a campanha já envolve as principais organizações sociais brasileiras, reunindo mais de 240 movimentos sociais. Querem, claramente, impedir que a juventude disposta a lutar não se aproprie de uma bandeira política.

Até aceitam a pauta das lutas econômicas, sem atendê-las evidentemente, mas propor uma luta política é um limite que consideram inaceitável. Recordemos o ensinamento de Florestan Fernandes: “Para osv que possa ser realizado por dentro da ordem, por meio do Estado e de cima para baixo. Trata-se de algo contra o que o movimento burguês tem lutado tenazmente, do Estado Novo à ‘democracia populista’ e à República institucional. O polo burguês repele a plebeização da ordem existente porque ela surge como revolução democrática, põe o país diante da única forma política de democracia compatível com as chocantes realidades da sociedade brasileira. Em consequência, cabe ao polo plebeu – subproletário, proletário e em parte pequeno burguês – soldar novas alianças de classes que nos afastem definitivamente dos pactos de conteúdo e implicações elitistas. A história atual lhe pertence, pois ele é a única garantia com que contamos de que a revolução democrática está em marcha”.

Enfrentar o atual sistema político, que conserva fortes heranças da ditadura é algo que as forças de direita não aceitarão, em nenhuma hipótese. Exatamente por isso, a campanha do Plebiscito Popular da Constituinte é a iniciativa política mais ousada dos movimentos sociais desde a palavra de ordem “Diretas já”. Para alguns, ousada até demais.

Não será fácil construir essa campanha. A bandeira da Constituinte toca no coração do poder, no centro de um sistema político que assegura o controle da classe dominante. À medida em que a campanha crescer, maiores serão os ataques. Os lutadores populares devem se preparar para uma luta árdua. Para todo tipo de ataque que os Reinaldo Azevedo, Jabor e companhia bradarão histericamente.

Sem enfrentar um sistema político no qual os grandes grupos econômicos ampliam suas bancadas a cada eleição, no qual a mais tímida das iniciativas políticas é soterrada e a alegação da correlação de forças desfavorável trava qualquer intento popular, estaremos condenados a um cenário em que mesmo quando conquistamos vitórias eleitorais somos empurrados para a lógica do recuo.

Diferente de outras campanhas decisivas como a luta contra a Alca, desta vez estamos discutindo diretamente o poder. E a história nos mostra que nesse ponto a classe dominante não vacila.

In.: Brasil de Fato. Editorial da edição 593 do Jornal Brasil de Fato.

 

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segunda-feira, 5 de maio de 2014

KAIRÓS: O TEMPO NOSSO DE CADA DIA

Diário remanso: encontros, acontecimentos, leituras... Intuições.
O clarão de uma anedota. Uma angústia, uma esperança.
Não à crônica; sua decantação. Vinho descansado.
Ou o instante de uma borboleta. Ou um latido.
Ou Deus passando como uma ventania, como uma brisa.
Nossa história em suas horas: o Kairós que alguém detecta.
O círculo concêntrico do remanso.
E o borbulhar do manancial.
(Pedro Casaldáliga)

Um dia desses, quando o coração parece estar mais propenso a entender algumas verdades que passam despercebidas aos sentidos, ouvi um comentário que ficou ressoando no coração como uma dúvida que não pode ser respondida imediatamente e como poesia que precisa ser apenas ruminada, decantada. Ouvia que, ultimamente, o tempo tem passado mais rápido que o normal, que os anos e meses parecem estar mais curtos... E, de fato, depois de abrir um bate papo sobre o assunto na sala de aula, comentávamos e compartilhava-mos essa mesma impressão. O tempo está mais rápido, se tornou relativo, parece ter perdido seu caráter absoluto.


Porém, no silêncio daqueles mistérios que só são possíveis na solidão, fiquei me perguntando: será mesmo que é o tempo que está diminuindo ou somos nós que estamos ficando maiores, com o coração maior, com a mente maior? Aliás, mais cheios de tudo. Antes, quando era mais criança e, por isso mesmo, dava mais atenção ao essencial, lembro que conseguia parar mais tempo para fazer certas coisas simples... coisas que parecem ter deixado de ser simples. Hoje, não consigo mais sentar, uma hora se quer do nosso dia, para uma boa conversa, ou para simplesmente contemplar aquelas coisas simples e lindas – e por isso mesmo essenciais – que passam despercebidas como um suspiro de saudade... Hoje não consigo mais escutar Deus como quando era criança, ou deitar em seu colo materno-paterno para simplesmente lembrar quem sou, de onde vim e para onde vou...


Há pouco tempo atrás nosso coração e nossa mente não precisava de assimilar tantas coisas e tanta informação ao mesmo tempo. Fazíamos poucas coisas, mas sentíamos que o pouco que fazíamos deveria ser bem feito. Hoje, tudo é colocado diante da gente ao mesmo tempo, tudo precisa ser feito no mínimo de tempo possível e o máximo possível. Será que ao aprender a quantificar as coisas não esquecemos também de qualificá-las? Ou mais sério ainda: será que, nessa mesma sociedade, não aprendemos a agir com as pessoas da mesma forma que agimos com as coisas? Estamos coisificando as pessoas? Estamos nos tornando mais cegos, surdos e mudos, pois perdemos a capacidade de enxergar o essencial, de ouvir o essencial, de falar o essencial... Perdemos a noção do tempo.


Sim, o tempo diminuiu. Aquele tempo que aprendemos na escola, o linear, o histórico, aquele sucessivo punhados de fatos que acumulamos na memória. Esqueceram de nos ensinar que o tempo é, sobretudo, cíclico, Kairós, tempo favorável, tempo de graça... Instante presente, aquele onde o essencial da vida se escancara diante de nós, ora como mistério, ora como graça. Mais cegos, mais surdos e mais mudos, as coisas passam mais rápido, assim como os anos, os meses, os dias e, talvez, assim como as pessoas... Porém, quando assumimos a grandiosidade do mistério que nos rodeia como tempo favorável e tempo de graça, onde o presente infinito e eterno é o único tempo que vale a pena de se viver, os anos, meses, dias e as pessoas não passam, simplesmente ficam... São eternizadas, na memória e no coração.

José Wilson Correa Garcia, em algum tempo desses...
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quinta-feira, 6 de junho de 2013

O SILÊNCIO DA BORBOLETA...

Há dias em que tento silenciar e há silêncios que são mais incômodos que qualquer barulho. Quando o interior não quer fazer silencio não há nada que faça aquietar a alma... Ela sempre deseja ir além do corpo, que parece limitá-la como se estivesse presa a ele, como se quisesse libertar-se dele. Tem gente que diz que o corpo é a prisão da alma, como se fossem duas coisas que pudessem se separar. Eu, particularmente, não acredito que Deus seria tão imperfeito ao ponto de me dar uma individualidade tão volátil ao ponto de separá-la. Não! Creio que o ser humano é uma unidade e uma individualidade perfeitamente harmônica e indivisível, mesmo que às vezes essa harmonia não seja perfeitamente vivida por causa dos barulhos e ruídos, sejam os de fora ou os de dentro.
Em certos instantes a vida me presenteia com a possibilidade de transformá-la a partir do silêncio. São momentos raros, às vezes é uma brisa suave que sopra, outras um pousar de uma borboleta, outras vezes um beijo e um abraço sincero de quem se ama. O fato é que o silencio que transforma sempre me joga pra dentro de mim mesmo e depois me lança pra fora ao encontro também de mim mesmo. Encontro-me aqui dentro, mas também ali onde minha vida se converge a todos e a tudo.
Lembro que em 2002 fiz um retiro espiritual com os jesuítas, em uma ilha na cidade de Itaparica – Salvador, na Bahia. É a experiência chamada Exercícios Espirituais Inacianos, que podem ser vividos em 30 dias corridos. E foi assim, trinta dias inteiro rodeado por um silêncio absurdamente transformador. Recordo que nos primeiros dias era quase doloroso silenciar, deixar o meu tempo se transformar no tempo de Deus. Eu queria tudo muito rápido, logo... Esquecia que tinha 30 dias pela frente pra aprender a calar. E foi com muito custo e, evidentemente, muita paciência que fui aprendendo aos poucos a falar para calar...
Hoje é difícil eu cavar tempo para fazer novamente aquela experiência transformadora de silêncio durante 30 dias. Mas ela deixou marcas tão profundas em mim que o silêncio se tornou uma necessidade cotidiana. Descobri que as transformações que dão verdadeiramente sentido acontecem no silêncio, exatamente como a metamorfose do casulo que carrega a larva precisa de silêncio para transformar-se em borboleta... Depois de transformada, a borboleta entra em um ritmo frenético. Porém, ela não esquece que necessita do silêncio... é o que vemos sempre que uma borboleta está pousada, ela apenas – e por necessidade vital – silencia, fica imóvel, as vezes movimentando bem lentamente suas asas acostumadas ao ritmo louco de sua curta vida... Assim também acontece comigo. Adélia Prado expressa tudo isso do seu jeito simples e profundo quando afirma: “Uma borboleta pousada ou é Deus ou é nada”.

José Wilson Correa Garcia - em um desses silêncios qualquer...
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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

DESEJO DE UNIDADE


Não tenho inclinação para ser melodramático, nem tão pouco excessivamente otimista comigo mesmo, nem muito menos com os outros. Na verdade às vezes me sinto como uma barca a deriva, balançando entre pessimismos e realismos... E entendo que assim mesmo, de vez em quando, é necessário que seja, como se essa fosse a única forma de não esquecer que a Vida não é aquele punhado de sonhos que aprendi nos tempos de minha infante liberdade...

Sinto, na verdade, que ela, a Vida, é um emaranhado caótico de forças antagônicas que brincam com meu corpo. As vezes os pés caminham por caminhos que não são possíveis às mãos tocarem. A cabeça fala de coisas que o coração não sente, ou o coração sente coisas que não é possível à cabeça entender...

Me sinto assim, disperso de mim mesmo, partido em pedaços que não se encontram, como se o elemento ou o elo que liga as minhas partes estivesse, também, disperso...

...Falando em elo, tem tempo que não deito a cabeça no colo de Deus... lá onde sempre consegui ser eu mesmo, sem máscaras, humanamente eu, simplesmente Ele... Sinto saudades da Sua voz gritando do Mar, "não temas", enquanto sentia medo na barca. Ou quando sentava ao Seu lado, na mesa, pra comer do mesmo pão e beber da mesma água ou vinho, que seja... Sinto saudades de quando, sentados diante da arte ou daquelas coisas simples que esquecemos de contemplar, ríamos e chorávamos juntos, dos meus desmantelos e das minhas doidices... Sem julgamentos, sem o peso do bem ou do mau...

Sim, sinto necessidade dessa unidade que dá sentido àquilo que sou.

Desejo um abraço apertado, neste exato momento, daqueles e daquelas que são minha carne, meu sangue e minha alma, e o sabem...

Como sacramento dessa unidade necessariamente tardia, desejo tudo aquilo que está longe de mim, pois no fim das contas, sou solidão, mas também esperança e amor...


Para minha família, que está longe e nunca deixo de sentir saudades, e Gabriela, a mulher que amo, e de quem sinto falta todos os dias...

José Wilson Correa Garcia

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quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O FECHAMENTO DA CAJU, DA IGREJA E DOS JESUÍTAS

Tenho acompanhado de longe – mas nem por isso distante – e com perplexidade os acontecimentos que levaram o fechamento arbitrário da CAJU, em Goiânia.


Para quem não conhece, a Casa da Juventude (CAJU) se tornou, durante 30 anos, um Centro de Capacitação e Formação Juvenil de referência Local, Nacional e Internacional. Ali acontecia formação para Jovens, Pastorais e Movimentos de diversos segmentos da Igreja e da Sociedade, em praticamente todos os âmbitos do universo juvenil: litúrgico/religioso, político, artístico, tecnológico, científico, etc. Mais ainda:, apesar de estar localizada em Goiânia, GO a CAJU esteve presente em quase todos os espaços de assessoria e formação de forma itinerante, seja no Brasil ou fora dele. Mas não quero falar da CAJU como um espectador estatístico. Não! Quero falar da CAJU como homem, como pessoa que foi transformado por sua missão, quero recordar nomes que me marcaram profunda e positivamente. Mas também quero lembrar nomes que, agora, são motivo de vergonha e tristeza...


Fui Jesuíta durante mais de 10 anos. Por uma série de circunstâncias que não vale a pena me estender agora, me desliguei da Companhia de Jesus e hoje sou Professor, amo e sou amado pela Gabriela, com muito orgulho e sou muito feliz por isso tudo. Durante o tempo em que estive na Ordem dos Jesuítas, por opção pessoal e pastoral, estive próximo do serviço a juventude, primeiramente através do Instituto de Pastoral da Juventude do Regional Leste II da CNBB, em Belo Horizonte (IPJ Leste II). Evidentemente, os trabalhos que assumíamos, nos colocaram em contato direto com outras pessoas, centros e institutos espalhados pelo Brasil. Assim conheci as primeiras pessoas que atuavam na CAJU. Depois, também por iniciativa pessoal, tive a oportunidade de fazer um Curso de Pós-graduação em Adolescência e Juventude no Mundo Contemporâneo, que acontecia e era articulado pela própria CAJU. Ali pude experimentar, verdadeiramente, o que é a CAJU. Ali conheci a Carmem, a Edina, o Lourival, a Jaciara e tantas outras e outros que faziam da CAJU um sonho possível e necessário de ser realizado. Nunca, em anos como jesuíta, tinha encontrado uma obra com tanto protagonismo leigo e dedicação à sua missão...


Como Jesuíta, e pelo fato de a CAJU ser uma obra ligada à Companhia de Jesus, quis saber quem eram os Jesuítas que, naquele momento, estavam por trás de toda aquela obra. É que geralmente, nas obras dos Jesuítas, normalmente eles definem e determinam quase tudo dentro dela, pois como ouvi muito dizer, “quem tem poder tem controle”. Para meu espanto, encontrei, como diretor, Pe. Geraldo Labarrère Nascimento, uma figura incrivelmente próxima, jovial e espantosamente amiga, muito diferente dos outros jesuítas da Província Centro-leste, que assumem um estereótipo de “intocáveis”, muito diferente dos Jesuítas, por exemplo, do Nordeste. Na segunda etapa descobri que o Pe. Geraldo não era mais o diretor, e sim a Carmem Lúcia Teixeira. Sim, uma mulher (diga-se de passagem, capacitadíssima) como diretora de uma obra dos Jesuítas, algo que nunca tinha visto, principalmente ali, naquela região. Também, tinha o Pe. Hilário Dick, que apesar de ser da Província da Sul (outro que tinha tudo para ser um “intocável”), esteve muito ligado à CAJU e naqueles dias estava facilitando uma disciplina na pós-graduação. Para quem conhece o Pe. Hilário, ele dispensa apresentações. É uma figura psicodélica, que fala da juventude como uma poesia constante, diária e necessária, que é como um sino que alerta constantemente a Igreja no Brasil da necessidade de ter um olhar e uma ação diferenciada para a Juventude. Pe. Geraldo e Pe. Hilário foram os dois Jesuítas que me ensinaram o que os Jesuítas deveriam fazer com suas obras, mas não fazem...


Hoje, quando percebo todo o desfecho que levou o fechamento da CAJU, apesar de sentir e de compartilhar a dor e a indignação de muitos que tem aquela casa como referência, confesso que não fico tão admirado assim. Meu espanto por encontrar, na CAJU, uma autonomia e um protagonismo leigo era, na verdade, um presságio. Sim, para mim o desfecho da CAJU é a confirmação de uma postura que, desgraçadamente, se enraizou e se afirmou na Igreja: o autoritarismo nada evangélico.


São pouquíssimos os bispos e padres que, hoje, tem a intenção de formar gente que pense por si, que se sinta verdadeiramente Igreja de Jesus Cristo... Pe. Geraldo, por exemplo, é um desses pastores. Seu sucessor, Pe. Nilson Marostica, é radicalmente o inverso e quando fiquei sabendo que ele tinha sido destinado para substituir o Pe. Geraldo, pensei no meu coração, “Ai vem coisa...”, mas preferi guardar esses acontecimentos no coração, como Maria. Entendo perfeitamente que Pe. Nilson, junto com o Provincialato dos jesuítas da Província Centro-leste, Pe. Smida e Pe. Carlos Fritzen, tenham argumentos econômicos e administrativos/filantrópicos para justificar essa atitude arbitrária e autoritária de fechar a CAJU. Mas no coração de quem vivenciou e entendeu a missão da CAJU, não existe justificativa possível... No fim das contas, aí está, mais uma vez, a afirmação de um modelo de igreja e de trabalho com a juventude que tem o controle como centro.


A CAJU fechou? Os que compartilharam com essa arbitrariedade e irresponsabilidade (sim, irresponsabilidade, pois nenhuma obra que funcionou com mais de 30 anos de projeto, é simplesmente fechada tão rápido quando inconseqüentemente), dirão que não, a CAJU continuará, mas em outra linha, em outra perspectiva de trabalho... Os que entendem a CAJU profundamente, afirmam acertadamente que ela fechou, sim. E fechou porque a CAJU não era somente a obra física, mas era a missão, o protagonismo, a autonomia... coisas tão desejadas e queridas pelos últimos documentos das Congregações Gerais e Normas dos Jesuítas. Mas quem perde não é somente a juventude brasileira e latino-americana, que não terão mais um centro de referência e formação, com tanta experiência e material sistematizado e publicado. Quem perde também é a igreja...


Apesar de tudo, ainda me sinto Igreja de Jesus. E como tal sofro porque sinto que, institucionalmente, a Igreja e os jesuítas perdem, em muito, com atitudes como essa. Estão se afastando do mundo. Acham que o punhado de jovens que conseguem controlar dentro de suas obras é o suficiente para a missão que Deus os confia... Mas não é...


A CAJU fechou? Institucionalmente, sim. E, com ela, também fechou a Igreja, fechou também os Jesuítas... Sinto e sei, contudo, que a CAJU também continua, no coração daquelas e daqueles que entenderam e viveram sua missão de levar para o mundo a mensagem do jovem Jesus de Nazaré... Isso não se fecha!



José Wilson Correa Garcia.
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domingo, 19 de agosto de 2012

VERDADE


Porque a verdade é sempre dura?
Porque expressá-la
de forma pessoal, clara e sincera
incomoda tanto?

A Verdade!
Ela só pode ser o que diz,
aquilo que é pessoalmente óbvio.
Claro, de um pondo de vista realmente particular.

Nela não há fantasias,
não há projeções,
não há ilusões.
Há, talvez, um pouco de Paixão.
E talvez esta seja necessária.
Quem sabe a própria verdade
só seja possível com Paixão!?

Toda Verdade deve ser respeitada
seja lá qual for seu peso,
seja lá qual for sua força,
seja lá qual for sua verdade.
Ela pode parecer vergonhosa
talvez por revelar o óbvio
encarcerado em nossas consciências.

Consciência corrompida,
oprimida, limitada, convidada.

Sim, a Verdade é um convite.
Convite à liberdade.

Liberdade da Consciência.
Liberdade do Coração.
Liberdade da Alma.

Ela dói tanto para quem ouve,
quanto para quem fala.
Talvez por que nenhum dos dois
sejam donos dela.
A Verdade é uma realidade Revelada
que não nos pertence.
Talvez por isso doa tanto.

José Wilson
Belo Horizonte,
outono de 2006.
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segunda-feira, 30 de julho de 2012

DÁ-NOS TUA PAZ

Um poesia de Pedro Casaldáliga que sempre ajuda a alimentar a Vida em horas críticas onde a falta de esperança e sentido parecem nos engolir com sua boca enorme. Instantes em que desejamos aquela Paz misteriosa que brota do alto e se enraiza neste chão que a gente pisa com os pés descalsos...


Dá-nos, Senhor, aquela Paz estranha
que brota em plena luta
como uma flor de fogo;
que rompe em plena noite
como um canto escondido;
que chega em plena morte
como um beijo esperado.

Dá-nos a Paz dos que caminham sempre,
nus de toda vantagem,
vestidos pelo vento da Esperança.

Aquela Paz dos pobres,
vencedores do medo.
Aquela Paz dos livres,
amarrados à vida.

A Paz que se partilha na igualdade,
como a Água e a Hóstia.

A Paz do Reino, que vem vindo,
inviável e certo.

Dá-nos a Paz, a outra Paz, a tua,
Tu que és nossa Paz!
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domingo, 29 de abril de 2012

O QUE SE CALA E O QUE SE FALA



Uma Eterna vez
uma amiga minha
mandou um sopro
que falava de silêncio
e seus antagonismos,
como aquela tensão necessária
entre o que se cala – e sabe-se calar –
e o que se fala – e sabe-se falar –.
Duas forças naturais,
ao mesmo tempo em que
contraditórias e necessárias...
Contraditórias por que
em circunstâncias mal entendidas
uma pode matar a outra.
Necessárias por que
o que se cala e o que se fala podem,
e oxalá precisem,
comunicar da sua forma,
o essencial e eterno da Vida...

Tanto uma como a outra
podem tornar-se fuga
desse eterno escondido em cada coisa.

Para fugir,
basta apenas falar quando deve-se calar,
basta apenas calar quando deve-se falar.
A nós - aos intensos -
basta saber do antagonismo do silêncio
no momento que calamos,
basta conhecer o paradoxo do dito
no momento que falamos.
Talvez o mais importante seja isso:
Saber por que se fala...
Saber por que se cala...

Na noite, em que os anjos
parecem calar e falar,
calo-me diante das verdades eternas
de um coração amigo...
Calo,
por que por que aprendi que preciso falar...
Falo,
por que aprendi que preciso calar...
E assim, descobrimo-nos capazes de criar, como Deus...
Simplesmente por que:
“Somos fecundos apenas ao preço
de sermos ricos em antagonismos”

José Wilson Correa Garcia
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