Há dias em que tento silenciar e
há silêncios que são mais incômodos que qualquer barulho. Quando o interior não
quer fazer silencio não há nada que faça aquietar a alma... Ela sempre deseja
ir além do corpo, que parece limitá-la como se estivesse presa a ele, como se
quisesse libertar-se dele. Tem gente que diz que o corpo é a prisão da alma,
como se fossem duas coisas que pudessem se separar. Eu, particularmente, não
acredito que Deus seria tão imperfeito ao ponto de me dar uma individualidade
tão volátil ao ponto de separá-la. Não! Creio que o ser humano é uma unidade e
uma individualidade perfeitamente harmônica e indivisível, mesmo que às vezes
essa harmonia não seja perfeitamente vivida por causa dos barulhos e ruídos,
sejam os de fora ou os de dentro.
Em certos instantes a vida me
presenteia com a possibilidade de transformá-la a partir do silêncio. São
momentos raros, às vezes é uma brisa suave que sopra, outras um pousar de uma
borboleta, outras vezes um beijo e um abraço sincero de quem se ama. O fato é
que o silencio que transforma sempre me joga pra dentro de mim mesmo e depois
me lança pra fora ao encontro também de mim mesmo. Encontro-me aqui dentro, mas
também ali onde minha vida se converge a todos e a tudo.
Lembro que em 2002 fiz um retiro
espiritual com os jesuítas, em uma ilha na cidade de Itaparica – Salvador, na
Bahia. É a experiência chamada Exercícios Espirituais Inacianos, que podem ser
vividos em 30 dias corridos. E foi assim, trinta dias inteiro rodeado por um
silêncio absurdamente transformador. Recordo que nos primeiros dias era quase
doloroso silenciar, deixar o meu tempo se transformar no tempo de Deus. Eu
queria tudo muito rápido, logo... Esquecia que tinha 30 dias pela frente pra
aprender a calar. E foi com muito custo e, evidentemente, muita paciência que
fui aprendendo aos poucos a falar para calar...
Hoje é difícil eu cavar tempo
para fazer novamente aquela experiência transformadora de silêncio durante 30
dias. Mas ela deixou marcas tão profundas em mim que o silêncio se tornou uma
necessidade cotidiana. Descobri que as transformações que dão verdadeiramente
sentido acontecem no silêncio, exatamente como a metamorfose do casulo que
carrega a larva precisa de silêncio para transformar-se em borboleta... Depois
de transformada, a borboleta entra em um ritmo frenético. Porém, ela não esquece
que necessita do silêncio... é o que vemos sempre que uma borboleta está
pousada, ela apenas – e por necessidade vital – silencia, fica imóvel, as vezes
movimentando bem lentamente suas asas acostumadas ao ritmo louco de sua curta
vida... Assim também acontece comigo. Adélia Prado expressa tudo isso do seu
jeito simples e profundo quando afirma: “Uma borboleta pousada ou é Deus ou é
nada”.
José Wilson Correa Garcia - em um desses silêncios qualquer...
Lindooo!
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