quinta-feira, 6 de junho de 2013

O SILÊNCIO DA BORBOLETA...

Há dias em que tento silenciar e há silêncios que são mais incômodos que qualquer barulho. Quando o interior não quer fazer silencio não há nada que faça aquietar a alma... Ela sempre deseja ir além do corpo, que parece limitá-la como se estivesse presa a ele, como se quisesse libertar-se dele. Tem gente que diz que o corpo é a prisão da alma, como se fossem duas coisas que pudessem se separar. Eu, particularmente, não acredito que Deus seria tão imperfeito ao ponto de me dar uma individualidade tão volátil ao ponto de separá-la. Não! Creio que o ser humano é uma unidade e uma individualidade perfeitamente harmônica e indivisível, mesmo que às vezes essa harmonia não seja perfeitamente vivida por causa dos barulhos e ruídos, sejam os de fora ou os de dentro.
Em certos instantes a vida me presenteia com a possibilidade de transformá-la a partir do silêncio. São momentos raros, às vezes é uma brisa suave que sopra, outras um pousar de uma borboleta, outras vezes um beijo e um abraço sincero de quem se ama. O fato é que o silencio que transforma sempre me joga pra dentro de mim mesmo e depois me lança pra fora ao encontro também de mim mesmo. Encontro-me aqui dentro, mas também ali onde minha vida se converge a todos e a tudo.
Lembro que em 2002 fiz um retiro espiritual com os jesuítas, em uma ilha na cidade de Itaparica – Salvador, na Bahia. É a experiência chamada Exercícios Espirituais Inacianos, que podem ser vividos em 30 dias corridos. E foi assim, trinta dias inteiro rodeado por um silêncio absurdamente transformador. Recordo que nos primeiros dias era quase doloroso silenciar, deixar o meu tempo se transformar no tempo de Deus. Eu queria tudo muito rápido, logo... Esquecia que tinha 30 dias pela frente pra aprender a calar. E foi com muito custo e, evidentemente, muita paciência que fui aprendendo aos poucos a falar para calar...
Hoje é difícil eu cavar tempo para fazer novamente aquela experiência transformadora de silêncio durante 30 dias. Mas ela deixou marcas tão profundas em mim que o silêncio se tornou uma necessidade cotidiana. Descobri que as transformações que dão verdadeiramente sentido acontecem no silêncio, exatamente como a metamorfose do casulo que carrega a larva precisa de silêncio para transformar-se em borboleta... Depois de transformada, a borboleta entra em um ritmo frenético. Porém, ela não esquece que necessita do silêncio... é o que vemos sempre que uma borboleta está pousada, ela apenas – e por necessidade vital – silencia, fica imóvel, as vezes movimentando bem lentamente suas asas acostumadas ao ritmo louco de sua curta vida... Assim também acontece comigo. Adélia Prado expressa tudo isso do seu jeito simples e profundo quando afirma: “Uma borboleta pousada ou é Deus ou é nada”.

José Wilson Correa Garcia - em um desses silêncios qualquer...

Comentários
1 Comentários

1 comentários: