Tenho
acompanhado de longe – mas nem por isso distante – e com perplexidade os
acontecimentos que levaram o fechamento arbitrário da CAJU, em Goiânia.
Para quem não
conhece, a Casa da Juventude (CAJU) se tornou, durante 30 anos, um Centro de
Capacitação e Formação Juvenil de referência Local, Nacional e Internacional.
Ali acontecia formação para Jovens, Pastorais e Movimentos de diversos
segmentos da Igreja e da Sociedade, em praticamente todos os âmbitos do
universo juvenil: litúrgico/religioso, político, artístico, tecnológico,
científico, etc. Mais ainda:, apesar de estar localizada em Goiânia, GO a CAJU
esteve presente em quase todos os espaços de assessoria e formação de forma itinerante,
seja no Brasil ou fora dele. Mas não quero falar da CAJU como um espectador
estatístico. Não! Quero falar da CAJU como homem, como pessoa que foi
transformado por sua missão, quero recordar nomes que me marcaram profunda e
positivamente. Mas também quero lembrar nomes que, agora, são motivo de
vergonha e tristeza...
Fui Jesuíta
durante mais de 10 anos. Por uma série de circunstâncias que não vale a pena me
estender agora, me desliguei da Companhia de Jesus e hoje sou Professor, amo e
sou amado pela Gabriela, com muito orgulho e sou muito feliz por isso tudo.
Durante o tempo em que estive na Ordem dos Jesuítas, por opção pessoal e
pastoral, estive próximo do serviço a juventude, primeiramente através do
Instituto de Pastoral da Juventude do Regional Leste II da CNBB, em Belo
Horizonte (IPJ Leste II). Evidentemente, os trabalhos que assumíamos, nos
colocaram em contato direto com outras pessoas, centros e institutos espalhados
pelo Brasil. Assim conheci as primeiras pessoas que atuavam na CAJU. Depois,
também por iniciativa pessoal, tive a oportunidade de fazer um Curso de
Pós-graduação em Adolescência e Juventude no Mundo Contemporâneo, que acontecia
e era articulado pela própria CAJU. Ali pude experimentar, verdadeiramente, o
que é a CAJU. Ali conheci a Carmem, a Edina, o Lourival, a Jaciara e tantas
outras e outros que faziam da CAJU um sonho possível e necessário de ser
realizado. Nunca, em anos como jesuíta, tinha encontrado uma obra com tanto
protagonismo leigo e dedicação à sua missão...
Como Jesuíta,
e pelo fato de a CAJU ser uma obra ligada à Companhia de Jesus, quis saber quem
eram os Jesuítas que, naquele momento, estavam por trás de toda aquela obra. É
que geralmente, nas obras dos Jesuítas, normalmente eles definem e determinam
quase tudo dentro dela, pois como ouvi muito dizer, “quem tem poder tem
controle”. Para meu espanto, encontrei, como diretor, Pe. Geraldo Labarrère
Nascimento, uma figura incrivelmente próxima, jovial e espantosamente amiga,
muito diferente dos outros jesuítas da Província Centro-leste, que assumem um estereótipo
de “intocáveis”, muito diferente dos Jesuítas, por exemplo, do Nordeste. Na
segunda etapa descobri que o Pe. Geraldo não era mais o diretor, e sim a Carmem
Lúcia Teixeira. Sim, uma mulher (diga-se de passagem, capacitadíssima) como
diretora de uma obra dos Jesuítas, algo que nunca tinha visto, principalmente
ali, naquela região. Também, tinha o Pe. Hilário Dick, que apesar de ser da Província
da Sul (outro que tinha tudo para ser um “intocável”), esteve muito ligado à
CAJU e naqueles dias estava facilitando uma disciplina na pós-graduação. Para
quem conhece o Pe. Hilário, ele dispensa apresentações. É uma figura
psicodélica, que fala da juventude como uma poesia constante, diária e
necessária, que é como um sino que alerta constantemente a Igreja no Brasil da
necessidade de ter um olhar e uma ação diferenciada para a Juventude. Pe.
Geraldo e Pe. Hilário foram os dois Jesuítas que me ensinaram o que os Jesuítas
deveriam fazer com suas obras, mas não fazem...
Hoje, quando
percebo todo o desfecho que levou o fechamento da CAJU, apesar de sentir e de
compartilhar a dor e a indignação de muitos que tem aquela casa como
referência, confesso que não fico tão admirado assim. Meu espanto por encontrar,
na CAJU, uma autonomia e um protagonismo leigo era, na verdade, um presságio. Sim,
para mim o desfecho da CAJU é a confirmação de uma postura que,
desgraçadamente, se enraizou e se afirmou na Igreja: o autoritarismo nada
evangélico.
São
pouquíssimos os bispos e padres que, hoje, tem a intenção de formar gente que
pense por si, que se sinta verdadeiramente Igreja de Jesus Cristo... Pe.
Geraldo, por exemplo, é um desses pastores. Seu sucessor, Pe. Nilson Marostica,
é radicalmente o inverso e quando fiquei sabendo que ele tinha sido destinado
para substituir o Pe. Geraldo, pensei no meu coração, “Ai vem coisa...”, mas
preferi guardar esses acontecimentos no coração, como Maria. Entendo
perfeitamente que Pe. Nilson, junto com o Provincialato dos jesuítas da Província
Centro-leste, Pe. Smida e Pe. Carlos Fritzen, tenham argumentos econômicos e
administrativos/filantrópicos para justificar essa atitude arbitrária e
autoritária de fechar a CAJU. Mas no coração de quem vivenciou e entendeu a
missão da CAJU, não existe justificativa possível... No fim das contas, aí está,
mais uma vez, a afirmação de um modelo de igreja e de trabalho com a juventude
que tem o controle como centro.
A CAJU fechou?
Os que compartilharam com essa arbitrariedade e irresponsabilidade (sim,
irresponsabilidade, pois nenhuma obra que funcionou com mais de 30 anos de
projeto, é simplesmente fechada tão rápido quando inconseqüentemente), dirão
que não, a CAJU continuará, mas em outra linha, em outra perspectiva de
trabalho... Os que entendem a CAJU profundamente, afirmam acertadamente que ela
fechou, sim. E fechou porque a CAJU não era somente a obra física, mas era a
missão, o protagonismo, a autonomia... coisas tão desejadas e queridas pelos
últimos documentos das Congregações Gerais e Normas dos Jesuítas. Mas quem
perde não é somente a juventude brasileira e latino-americana, que não terão
mais um centro de referência e formação, com tanta experiência e material
sistematizado e publicado. Quem perde também é a igreja...
Apesar de
tudo, ainda me sinto Igreja de Jesus. E como tal sofro porque sinto que,
institucionalmente, a Igreja e os jesuítas perdem, em muito, com atitudes como
essa. Estão se afastando do mundo. Acham que o punhado de jovens que conseguem
controlar dentro de suas obras é o suficiente para a missão que Deus os
confia... Mas não é...
A CAJU fechou?
Institucionalmente, sim. E, com ela, também fechou a Igreja, fechou também os
Jesuítas... Sinto e sei, contudo, que a CAJU também continua, no coração
daquelas e daqueles que entenderam e viveram sua missão de levar para o mundo a
mensagem do jovem Jesus de Nazaré... Isso não se fecha!
José Wilson Correa Garcia.
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