Nunca
consegui ficar muito tempo longe do Mar. Desde criança ele sempre habitou minha
vida e ela sempre esteve mergulhada nele. Lembro que na casa de mamãe e papai,
naquele tempo em que éramos ingenuamente livres, quando chovia muito forte, eu
e meu irmão, sem medo de trovões e relâmpagos, pegávamos a bola e corríamos
para a beira da praia, onde brincávamos e, as vezes, brigávamos... Depois, caíamos no Mar. Nunca nos contentávamos apenas com a
água da chuva, sempre desejávamos o Mar mesmo, e fazíamos do nosso desejo - que
não precisava ser dito - realidade. Ficávamos somente com a cabeça do lado de
fora, buscando fôlego (a água do Mar com chuva, para quem conhece esse tempo, é
morna e melancólica). A torrente d'água da chuva caindo sobre a superfície
espelhada do Mar produzia um som contínuo e estridente. Não nos ouvíamos
direito, mas nos entendíamos...
Depois
de um tempo buscando fôlego eu abaixava a cabeça, ficava totalmente submerso.
Lá não se ouvia mais barulho algum, somente o silêncio daqueles mistérios que
só pertencem ao Mar, aqueles que vem e vão, incessantemente, como as ondas....
Lá embaixo, o mundo e a vida davam um suspiro silenciosamente desconcertante, e
tudo parecia simplesmente aquietar-se... Era apenas eu e meu mistério.
Curiosamente,
hoje, enquanto dormia, sonhei com o Mar! Foi um sonho de paz e misteriosa
quietude. Eu e meu irmão já não corremos mais em direção à praia chuvosa de
nossa infância... Cada um de nos dois teve que crescer e achar seus amores. Mas
o Mar continua habitando minha vida como se dela nunca tivesse saído ou mudado,
apesar de seu incessante e constante ir e vir. Mas foi exatamente naquela
infância que aprendi que as conchas escondem dentro de si o barulho do Mar,
aquele mesmo... E é verdade! Gostava de ficar deitado, antes de dormir, com uma
delas perto do ouvido, simplesmente escutando... Hoje, no sonho, descobri que
minhas duas mãos, em forma de concha, podem reproduzir exatamente o mesmo
mistério, exatamente porque, apesar do tempo e da distância, elas continuam
habitadas por aquilo que aprenderam, desde sempre, a amar: o Mar.
José Wilson Correa Garcia
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