Hoje
pensei muito na minha infância. E lembrar-se dela me fez recordar, isto é, fiz
passar novamente pelo coração, a verdade de que a Vida é realmente um mistério!
Sim, lembrei que não tinha preocupações, que tudo parecia ser tão fácil,
exatamente porque quase tudo não dependia simplesmente de mim. Lembrei que não
tinha cerimônias com muitas coisas, por
exemplo, quando comia bolacha (ou biscoito) amassado na minha tigela de café
com leite. Ou quando corríamos com os pés descalços enquanto mamãe gritava o
nosso nome chamando pra tomar banho, porque o horário de ir à escola já se
aproximava. Ou quando ainda brincávamos de pique esconde, como uma espécie de
presságio sobre o futuro inevitável que se aproximava, quando deixaríamos de
ser apenas crianças e sentiríamos necessidade, de vez em quando, de se esconder do mundo...
Não
me sinto mais criança, reconheço que sou adulto, tenho outras demandas, outras
responsabilidades, outros desejos, outros sonhos... Mas há algo dentro de mim
que não permite que minha infância seja simplesmente apagada. E é por isso que
hoje recordei que a Vida é realmente um mistério, porque ela sempre exige da
gente uma liberdade que a gente só têm quando é criança. Não qualquer
liberdade, mas aquela que nos faz reconhecer que a vida não depende só da gente
e que, por isso mesmo, devemos sempre confiar... É exatamente por isso que a
lembrança mais nítida e surpreendentemente distante que tenho da minha infância
é de quando eu ainda estava de colo, talvez com pouco mais de um ano. Não
lembro ao certo o que estava se passando a minha volta naquele dia – é que a gente
quando é muito criancinha não se preocupa muito com aquilo que está para além
daquilo que nossos sentidos e sentimentos podem absorver. O fato é que lembro
de papai me carregando no colo. Estava descendo comigo a escadaria da Igreja e
no meio do caminho para pra me mostrar uns miquinhos (sim, macaquinhos) que
viviam por ali em uma casinha de madeira suspensa por um galho seco... e papai
jogava alguma coisa pra eles pegarem, e eu ficava maravilhado com aquilo – é
que quando a gente é criança a gente, também, tem uma sensibilidade mais
aguçada, o que nos torna capaz de se maravilhar mais facilmente com aquilo que
hoje consideramos simples e, por vezes, banal.
Enfim,
acho que há algo de mágico na infância que nos ensina que a vida é, sobretudo,
um ato de confiança – exatamente como confiava no colo de meu pai, ou na voz da
minha mãe. E que o tempo, aquele mostro que parece engolir com sua boca enorme
os anos de nossa liberdade, nada mais é do que o instante presente que temos
para confiar, amando com intensidade e cuidado da criança que misteriosamente
nos habita e, oxalá, sempre habitará...
pow zezinho, show de bola, tenha certeza que vocês ai serão e sempre estarão em nossos pensamentos, um abraço, Paulinho.
ResponderExcluir