Chegamos em um estágio desta pandemia em que é inevitável não reconhecer as diversas experiências de socialização presencial como fator fundamental para a realização humana. É no contato com o outro que nos realizamos, crescemos, nos desenvolvemos. A família é um lugar de socialização, mas ela está limitada a um universo que não supre outras dimensões da vida, como amizade, companheirismo, paixão, etc.
A ausência desse contato, para além da socialização familiar, aleija a vida. E as pessoas, depois de mais de quatro meses tentando, aos trancos e barrancos, se manter distantes das outras formas de socialização, começam a sentir as consequências: estresse, irritabilidade, solidão, tristeza e depressão. Sei disso porque sou professor e observo, mesmo a distância, os sinais que meus alunos dão.
Hoje, vemos shoppings centers, praças e praias lotadas de gente. A primeira tendência daqueles mais conscientes, diante deste atual cenário, é julgar e condenar os outros que querem sair de alguma forma. É até compreensível, tendo em vista que, culturalmente, não somos reconhecidos como um povo consciente.
Hoje, me despindo de qualquer carga de moralismo, como professor, eu diria para os pais de meus alunos: levem seus filhos para espaços de socialização. Mas levem em segurança, com distanciamento e com os cuidados que vocês já sabem bem quais são. Se o ambiente tem outras pessoas que não são conscientes e responsáveis, se afastem. Mas não deixem mais seus filhos dentro de casa por muito tempo.
O que vale para a família, em relação a este conselho, também vale para a Escola. É possível, sim, voltarmos aos poucos de forma segura e controlada.
O problema é que, em se tratando (principalmente) de educação pública, nosso sistema educativo não está preparado para esse retorno, assim como não está preparado para outras mudanças necessárias que o contexto de pandemia está exigindo das instituições de ensino. Digo isso porque sou estudante de uma instituição pública e conheço a ineficiência ou má vontade, mesmo depois de quatro meses, em estabelecer um plano de ação de retomada de atividades de forma segura e responsável.
O sistema público brasileiro se acostumou com a lógica de oferecer serviços e realizá-los da forma mais fácil e simples possível. Por isso, permanecemos ainda inertes. É mais fácil simplesmente parar as atividades. E permanecer parados até sabe-se lá quando. Difícil é não se resignar.
A mesma lógica acontece com o problema da seca no nordeste. Entra governo, sai governo e a lógica da relação com a seca permanece: é preciso combater a seca e não conviver com ela. O mesmo vale para a pandemia do coronavírus, que é uma realidade que chegou para ficar, não tenho dúvidas.
Até quando permaneceremos inertes e irresponsáveis diante das consequências sociais, culturais e psíquicas de tantas crianças, adolescentes e jovens brasileiros?
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