O
caminho de Emaús é o caminho de cada um de nós. Particularmente neste tempo de
isolamento, não só das pessoas, mas também de ideais e das pequenas e mais
importantes coisas da vida.
Eu
sempre gostei desta narrativa do Evangelho de Lucas que a Igreja propõe na
Liturgia de hoje. Está em Lc 24,13-35. A Palavra é surpreendentemente simples.
É porque Deus sabe que o mais importante está nas coisas mais simples. Por
isso, é assim que Ele fala...
E
fala de dois corações no caminho, mas um só sentimento: a falta de
esperança. Gosto sempre de pensar que eram dois amigos, ou duas amigas, ou
um casal. No caminho carregam ideais perdidos, sonhos destruídos, incertezas
por situações que não dependem deles. O caminho é pesado, as lembranças
dolorosas, as histórias angustiam. Alguém entra na conversa e faz o caminho
junto com eles. É Jesus, claro! Mas eles não o reconhecem. Óbvio! A gente nunca
sabe que Deus pode estar do nosso lado em momentos de desesperança e de
sofrimento. E o que Jesus faz? Apenas escuta. Escuta a história, escuta a vida.
Quantos de nós não quer apenas falar e ser escutado? Quantos de nós não quer
apenas alguém pra nos dizer e mostrar que, apesar de tudo, a vida continua a
nos ensinar e nos fazer crescer. É isso que Jesus faz. Por isso o coração da
dupla arde no caminho. No fim dele, na mesa da partilha, o reconhecimento
definitivo de que Deus nunca os abandonou.
O
caminho da quarentena é igualmente pesado ao coração. É possível que Deus
esteja caminhando ao nosso lado. Talvez não percebamos porque insistimos em dar
atenção àquilo que pesa ao coração. Quantos de nós não aguenta mais tanta
informação e notícia ruim? Mas quantos procurou informações e notícias boas?
Quando aprendemos a dedicar nossa atenção àquilo que realmente importa, o
coração queima. E queima porque sente que, no fim das contas, apesar das
distâncias e pesos, não estamos sozinhos. Mas os olhos ainda não conseguem
enxergar. Mas enxergará, no momento em que, tendo passado tudo isso, voltarmos
a nos reencontrar na simplicidade daquelas coisas que, hoje, distantes e
isolados, aprendemos a dar valor: o abraço, a presença, o cuidado.
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