terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

MINHA VIDA, MEU AMOR...

Dizem que a Vida
só é possível de ser vivida compartilhada.
Não gosto de pensá-la – a Vida –
apenas como um instante de troca
ou doação, que seja...
Muito menos de vivê-la
como um hábito de encontros e desencontros,
de reencontros e despedias,
de desejos doados e vazios preenchidos...
Não! A Vida não é apenas isso,
a Vida é tudo isso,
e mais um pouco,
muito mais...

Desejava existirem palavras possíveis
de preencherem vazios imensos,
aqueles que nos alcançam
como um abraço apertado de dor,
onde o silêncio nos beija
como a única possibilidade
de uma Vida vivida com paixão...

Conheci vastos mares de silêncios e solidões.
Andei por caminhos que não se acabam,
e ainda ando, com os pés descalços,
mesmo que muitos digam que é em vão...

Sonhei com as flores do campo
repletas de belezas,
sem saber onde pisar ou como colher...
Chorei e sorri sozinho,
com Deus e sem Ele...

E antes de esta mesma Vida ter-me desfeito,
naquele silêncio que se dissolve nas palavras,
conheci a importância de falar para calar.

Foi então que entendi
que a saudade é apenas uma palavra...
Uma palavra carregada de sentido,
cheia de carne e sangue.
E que o Amor
é aquela força transformadora
que nos tira de dentro de nós mesmos
para nos jogar dentro de tudo,
e nos transformar em absolutamente tudo...

E foi assim,
que conheci uma vida cheia de sentido.
Conheci o Amor, meu Amor, Minha Vida...
Aprendi que na sua fragilidade
é preciso respeitar o que o silêncio grita,
e chorar junto quando for preciso...
E mesmo sem saber como,
ou onde, e a que distância,
cuidar para que o Amor e a Vida
não se percam no esquecimento de uma solidão morta,
mas que sejam cuidados a cada momento de encontro
simplesmente para que sejam eternos enquanto durarem...



José Wilson Correa Garcia
Canoa Quebrada, Ceará, Brasil - Num desses verões, sentado na varanda, em um fim de tarde, quando o vento sopra mais misterioso e o céu se converte num vermelhidão de sentimentos...
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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

HOJE PENSEI MUITO NA MINHA INFÂNCIA

Hoje pensei muito na minha infância. E lembrar-se dela me fez recordar, isto é, fiz passar novamente pelo coração, a verdade de que a Vida é realmente um mistério! Sim, lembrei que não tinha preocupações, que tudo parecia ser tão fácil, exatamente porque quase tudo não dependia simplesmente de mim. Lembrei que não tinha cerimônias com muitas coisas, por exemplo, quando comia bolacha (ou biscoito) amassado na minha tigela de café com leite. Ou quando corríamos com os pés descalços enquanto mamãe gritava o nosso nome chamando pra tomar banho, porque o horário de ir à escola já se aproximava. Ou quando ainda brincávamos de pique esconde, como uma espécie de presságio sobre o futuro inevitável que se aproximava, quando deixaríamos de ser apenas crianças e sentiríamos necessidade, de vez em quando, de se esconder do mundo...


Não me sinto mais criança, reconheço que sou adulto, tenho outras demandas, outras responsabilidades, outros desejos, outros sonhos... Mas há algo dentro de mim que não permite que minha infância seja simplesmente apagada. E é por isso que hoje recordei que a Vida é realmente um mistério, porque ela sempre exige da gente uma liberdade que a gente só têm quando é criança. Não qualquer liberdade, mas aquela que nos faz reconhecer que a vida não depende só da gente e que, por isso mesmo, devemos sempre confiar... É exatamente por isso que a lembrança mais nítida e surpreendentemente distante que tenho da minha infância é de quando eu ainda estava de colo, talvez com pouco mais de um ano. Não lembro ao certo o que estava se passando a minha volta naquele dia – é que a gente quando é muito criancinha não se preocupa muito com aquilo que está para além daquilo que nossos sentidos e sentimentos podem absorver. O fato é que lembro de papai me carregando no colo. Estava descendo comigo a escadaria da Igreja e no meio do caminho para pra me mostrar uns miquinhos (sim, macaquinhos) que viviam por ali em uma casinha de madeira suspensa por um galho seco... e papai jogava alguma coisa pra eles pegarem, e eu ficava maravilhado com aquilo – é que quando a gente é criança a gente, também, tem uma sensibilidade mais aguçada, o que nos torna capaz de se maravilhar mais facilmente com aquilo que hoje consideramos simples e, por vezes, banal.


Enfim, acho que há algo de mágico na infância que nos ensina que a vida é, sobretudo, um ato de confiança – exatamente como confiava no colo de meu pai, ou na voz da minha mãe. E que o tempo, aquele mostro que parece engolir com sua boca enorme os anos de nossa liberdade, nada mais é do que o instante presente que temos para confiar, amando com intensidade e cuidado da criança que misteriosamente nos habita e, oxalá, sempre habitará...
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DESEJO DE UNIDADE


Não tenho inclinação para ser melodramático, nem tão pouco excessivamente otimista comigo mesmo, nem muito menos com os outros. Na verdade às vezes me sinto como uma barca a deriva, balançando entre pessimismos e realismos... E entendo que assim mesmo, de vez em quando, é necessário que seja, como se essa fosse a única forma de não esquecer que a Vida não é aquele punhado de sonhos que aprendi nos tempos de minha infante liberdade...

Sinto, na verdade, que ela, a Vida, é um emaranhado caótico de forças antagônicas que brincam com meu corpo. As vezes os pés caminham por caminhos que não são possíveis às mãos tocarem. A cabeça fala de coisas que o coração não sente, ou o coração sente coisas que não é possível à cabeça entender...

Me sinto assim, disperso de mim mesmo, partido em pedaços que não se encontram, como se o elemento ou o elo que liga as minhas partes estivesse, também, disperso...

...Falando em elo, tem tempo que não deito a cabeça no colo de Deus... lá onde sempre consegui ser eu mesmo, sem máscaras, humanamente eu, simplesmente Ele... Sinto saudades da Sua voz gritando do Mar, "não temas", enquanto sentia medo na barca. Ou quando sentava ao Seu lado, na mesa, pra comer do mesmo pão e beber da mesma água ou vinho, que seja... Sinto saudades de quando, sentados diante da arte ou daquelas coisas simples que esquecemos de contemplar, ríamos e chorávamos juntos, dos meus desmantelos e das minhas doidices... Sem julgamentos, sem o peso do bem ou do mau...

Sim, sinto necessidade dessa unidade que dá sentido àquilo que sou.

Desejo um abraço apertado, neste exato momento, daqueles e daquelas que são minha carne, meu sangue e minha alma, e o sabem...

Como sacramento dessa unidade necessariamente tardia, desejo tudo aquilo que está longe de mim, pois no fim das contas, sou solidão, mas também esperança e amor...


Para minha família, que está longe e nunca deixo de sentir saudades, e Gabriela, a mulher que amo, e de quem sinto falta todos os dias...

José Wilson Correa Garcia

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O MAR

Nunca consegui ficar muito tempo longe do Mar. Desde criança ele sempre habitou minha vida e ela sempre esteve mergulhada nele. Lembro que na casa de mamãe e papai, naquele tempo em que éramos ingenuamente livres, quando chovia muito forte, eu e meu irmão, sem medo de trovões e relâmpagos, pegávamos a bola e corríamos para a beira da praia, onde brincávamos e, as vezes, brigávamos... Depois, caíamos no Mar. Nunca nos contentávamos apenas com a água da chuva, sempre desejávamos o Mar mesmo, e fazíamos do nosso desejo - que não precisava ser dito - realidade. Ficávamos somente com a cabeça do lado de fora, buscando fôlego (a água do Mar com chuva, para quem conhece esse tempo, é morna e melancólica). A torrente d'água da chuva caindo sobre a superfície espelhada do Mar produzia um som contínuo e estridente. Não nos ouvíamos direito, mas nos entendíamos...
 
Depois de um tempo buscando fôlego eu abaixava a cabeça, ficava totalmente submerso. Lá não se ouvia mais barulho algum, somente o silêncio daqueles mistérios que só pertencem ao Mar, aqueles que vem e vão, incessantemente, como as ondas.... Lá embaixo, o mundo e a vida davam um suspiro silenciosamente desconcertante, e tudo parecia simplesmente aquietar-se... Era apenas eu e meu mistério.

Curiosamente, hoje, enquanto dormia, sonhei com o Mar! Foi um sonho de paz e misteriosa quietude. Eu e meu irmão já não corremos mais em direção à praia chuvosa de nossa infância... Cada um de nos dois teve que crescer e achar seus amores. Mas o Mar continua habitando minha vida como se dela nunca tivesse saído ou mudado, apesar de seu incessante e constante ir e vir. Mas foi exatamente naquela infância que aprendi que as conchas escondem dentro de si o barulho do Mar, aquele mesmo... E é verdade! Gostava de ficar deitado, antes de dormir, com uma delas perto do ouvido, simplesmente escutando... Hoje, no sonho, descobri que minhas duas mãos, em forma de concha, podem reproduzir exatamente o mesmo mistério, exatamente porque, apesar do tempo e da distância, elas continuam habitadas por aquilo que aprenderam, desde sempre, a amar: o Mar.

José Wilson Correa Garcia


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