Já repararam que quando a gente sente saudades,
de vez em quando, sentimos de algo que nos fez sofrer? Vou tentar explicar...
Eu, quando criança, sofria quando ia pra escola. Queria permanecer brincando e feliz. Sentia que a escola não era lugar de felicidade. Depois de adolescente e jovem o sofrimento continuou. E nas constantes reclamações escolares sempre escutava meus professores dizerem que sentiria saudades da escola. Mas nunca acreditei neles. Até que cheguei na faculdade e a saudades da escola apareceu.
Depois de adulto, quando me tornei professor, passei a falar exatamente as mesmas coisas pros meus alunos. E eles nunca acreditam. Isso porque a saudade só existe na distância. É preciso sair da escola para sentir. Não seria assim com tudo?
Lembro que na família, quando éramos crianças, os domingos à noite eram momentos de sofrimento. A vinheta do programa Fantástico anunciava a segunda feira que chegava com uma nova semana de estudo... e sofrimento. Hoje eu daria tudo pra voltar em uma noite daquelas de domingo, quando estávamos juntos em casa assistindo televisão. Hoje sinto saudades destas pequenas felicidades que não posso ter mais, porque passaram.
Recentemente, conversando com duas amigas, perguntava a elas porque a gente às vezes sente saudades de algo que nos fez sofrer no passado. E elas diziam uma coisa que me fez pensar. Talvez sintamos saudades porque no passado aquilo que a gente acreditava que era sofrimento, talvez não fosse. E nossa compreensão do presente nos fez entender que o sofrimento do passado, na verdade, eram instantes de felicidade, que hoje sentimos saudades.
E fiquei pensando nessas peças que o tempo nos prega. Gastamos boa parte do tempo de nossas vidas reclamando dos sofrimentos que vivenciamos no presente, grandes ou pequenos. É óbvio que algumas coisas que nos fazem sofrer machucam de verdade: o corpo, a mente, o espírito. E reconhecemos a felicidade quando nos distanciamos deles. Mas será que, em muitos casos, não reclamamos desnecessariamente? É como se fôssemos sempre um pouco ingratos com a vida que temos, incapazes de olhar as coisas como graça ao invés de olhar sempre como maldição.
A saudade é a prova e o reconhecimento da felicidade que tivemos. No passado, não soubemos valorizar aqueles instantes de felicidade que pensávamos ser sofrimento, porque não éramos quem somos hoje. E isso pode nos ajudar a mudar completamente a forma como lidamos com os instantes presentes de nossas vidas.
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