Estava assistindo ao depoimento do
Coronel Ustra (sim, aquele mesmo louvado pelo deputado Jair Bolsonaro) na
comissão da verdade, para responder por crimes contra cidadãos brasileiros,
torturados e mortos durante a ditadura militar, quando ele era comandante do
Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) de São Paulo. Em um momento do
depoimento me chamou atenção essa argumentação de defesa que ele faz e que transcrevo
literalmente (é de domínio público):
"...Portanto,
quem deve estar aqui não é o coronel carlos alberto brilhante ustra. Quem tem
que tá aqui é o exército brasileiro [...] que assumiu a ordem do presidente da
república [...] e sob os quais eu cumpri todas as ordens..."
Me chamou atenção essa argumentação, pois me fez lembrar do comandante nazista Adolf Eichmann, um dos principais organizadores do assassinato de milhões de pessoas durante a 2ª grande guerra. O mesmo quando foi julgado e condenado pela corte internacional formada para julgar crimes contra a humanidade, durante o holocausto judeu, usou como argumentação a mesma estratégica presente no discurso de Ustra, ou seja, que estava apenas cumprindo ordens de seus superiores, isto é, era um burocrata do mal. Segundo ele, não foi contratado para pensar nas consequências dos seus atos, mas para executar ordens e, assim, assassinar milhões de judeus em campos de concentração durante o domínio da Alemanha Nazista.
Foi essa argumentação que fez a filósofa
judia Hannah Arendt, enviada a Jerusalém para cobrir o julgamento de Eichman em
1961, cunhar o conceito de Banalidade do mal. Segundo ela, o mal banal é aquele
feito por ignorância, quando o indivíduo se abstêm da inteligência e da
capacidade de pensar nas consequências das próprias ações.
Eichmann e Ustra não foram tão
diferentes. Pior, eles conseguem arrebanhar seguidores e defensores, ao escolherem
a omissão e a perpetuação do mal banalizado por suas próprias ignorâncias...
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