sábado, 28 de março de 2015

EDUCAÇÃO BÁSICA: Um olhar para o Brasil, para o Ceará e para Russas a partir de suas taxas de Aprovação, Reprovação e Abandono.

EDUCAÇÃO BÁSICA: Um olhar para o Brasil, para o Ceará e para Russas a partir de suas taxas de Aprovação, Reprovação e Abandono.


José Wilson Correa Garcia[1]


 1.      INTRODUÇÃO
A situação e a realidade educacional brasileira tem sido um debate constante nos últimos anos, seja nos espaços acadêmicos ou políticos, particularmente a partir do processo de redemocratização do Estado Brasileiro, quando se estabelece princípios democráticos para todas as áreas e se asseguram instrumentos legais, ações e programas voltados para criação de políticas públicas para o sistema educativo. O consequente monitoramento dessa área também se fez e se faz necessário, considerando o tamanho físico e a complexidade cultural e regional que caracterizam o Brasil.
A necessidade de monitoramento, particularmente, da Educação Básica no Brasil fez surgir a proposta indicativa do IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica - que tem o objetivo de “medir” a qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas para a melhoria do ensino no país. Divulgado a cada dois anos, o índice varia em uma escala de 0 a 10 e é calculado a partir de dois componentes: as taxas aprovação dos estudantes e as médias de desempenho dos alunos nas avaliações aplicadas pelo INEP[2].
A partir desses dados são calculados o Ideb de cada escola, rede de ensino, município e estado, além da média nacional. Cada unidade de ensino pública (seja municipal, estadual ou federal) tem metas no Ideb a serem atingidas a cada dois anos. Também foram determinadas metas para todos os municípios e estados. 
O Ideb é calculado para três etapas de ensino: anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5° ano), anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano) e ensino médio. Atualmente, o Ideb nacional para os primeiros anos do ensino fundamental é de 5,2 pontos, segundo os dados apurados para o ano de 2013. A meta é que, até 2022, o país atinge a média 6 no Ideb. 
O critério da análise de uma base de dados que considere as taxas de Aprovação, Reprovação e Abandono será o objeto de investigação deste artigo. Evidentemente, sabe-se que nem sempre é fácil – e não existe um consenso nesse sentido – estabelecer uma avaliação absolutamente precisa e integral a partir de dados quantitativos e estatísticos. Porém, em uma realidade geográfica e cultural tão complexa e diversificada como é o caso do Brasil, este é o recurso metodológico de que o sistema educacional brasileiro dispõe. É a partir dele que este artigo procurará interpretar a situação educacional brasileira a partir das taxas de Aprovação, Reprovação e Abandono, tanto em âmbito Nacional, quanto em âmbito Estadual e Municipal[3]. O referencial adotado para coleta dos dados será o próprio Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e o sistema QEdu[4].

2.      TAXAS DE APROVAÇÃO, REPROVAÇÃO E DESISTÊNCIA

2.1 DADOS NACIONAIS: olhando para o Brasil.
O universo nacional considerado se refere ao senso de 2013, que contabiliza uma média de quase 42 milhões de alunos matriculados em Instituições Educacionais da Educação Básica, considerando o Ensino Fundamental em suas modalidades, bem como o Ensino Médio, também em suas modalidades. A essa média geral segue os dados de Aprovação, Reprovação e Desistências[5].

 

 Em âmbito nacional, de acordo com os referidos dados, acima sugeridos no gráfico à esquerda, percebe-se, na educação básica brasileira um crescente índice de reprovações e abandonos aumentando de acordo com a respectiva etapa. O ensino médio nacional ainda parece ter os índices mais acentuados. Isso fica evidente na taxa de rendimento, mostrada no gráfico à direita, que é a somatória dos índices de Aprovação, Reprovação e Abandono, particularmente acentuada no Primeiro ano do Ensino Médio. É interessante, e ao mesmo tempo sintomático, que a Taxa de Rendimento apresente uma caída exatamente nos momentos em que o educando está em transição para uma outra etapa de sua vida acadêmica, ou seja, no final do ensino Fundamental, no 9º ano, quando ele ingressa no Ensino Médio, e no final do Ensino Médio, quando ingressa no Ensino superior ou no mercado de trabalho. É o que se comprova e observa mais detalhadamente nos gráficos onde são mostrados os mesmos índices da educação básica, mas por ano escolar.
À União cabe a responsabilidade por todo sistema educacional brasileiro. A criação, implementação e monitoramento de leis, políticas públicas, ações e programas é responsabilidade de toda União Federativa. Os dados em âmbito federal mostram índices de reprovação e abandono preocupantes, se analisados em larga escala, localizados nas duas modalidades da educação básica, Ensino Fundamental e Médio. Por exemplo, só no ano de 2013 quase 1,5 milhões de alunos deixaram de frequentar a escola durante o ano letivo em curso ou tiveram frequência escolar insuficiente (abandonaram a escola) e quase 3,5 milhões alunos não apresentaram os requisitos de aproveitamento e/ou frequência escolar necessários. Há de se considerar que são números grandes e preocupantes e o questionamento sobre os motivos e as causas dessas taxas não podem passar despercebidos das políticas federais para educação.
  
2.2  DADOS ESTADUAIS:  Olhando para o Ceará.

O universo estadual considerado (Estado do Ceará) se refere, também, ao senso de 2013, que contabiliza uma média de quase 2 milhões de alunos matriculados em Instituições Educacionais da Educação Básica, considerando o Ensino Fundamental em suas modalidades, bem como o Ensino Médio, também em suas modalidades. A essa média geral segue os dados de Aprovação, Reprovação e Desistências[6].
 
 


 Observe-se que, em âmbito estadual, na realidade do Ceará, a porcentagem das taxas de Matrícula, Aprovação e Reprovação são, proporcionalmente, muito parecidas com a realidade Nacional. Porém, quando se analisa a taxa de rendimento estadual, comparada com a nacional, apesar do baixo rendimento estar localizado, também, nos momentos em que se transita do final de uma etapa para a outra, a realidade do Estado do Ceará parece ser mais favorável, com rendimentos mais significativamente positivos.
            Os dados estaduais, em certo sentido, são fiéis e coerentes com os avanços percebidos em resposta às medidas de políticas públicas adotadas para a sua área educacional. Nos últimos anos, houve um esforço público em promover políticas, programas e projetos que assegurassem a permanência qualitativamente integral do educando na escola. Alinhada a essa permanência implantou-se, em nível estadual, o modelo educacional que integra Ensino Regular à Educação Profissionalizante. Desde o ano de sua implantação, em 2008, o modelo Integral de Educação Profissionalizante integrado ao ensino Regular, implantado em boa parte dos municípios cearenses, possibilitou um avanço qualitativo e quantitativo nos dados e nas taxas em nível estadual.
Ao Estado cabe a responsabilidade pelo Ensino Médio no âmbito federativo estadual. Os dados em âmbito estadual, apesar de mais favoráveis, mostram também índices de reprovação e abandono preocupantes. Por exemplo, só no ano de 2013 quase 60 mil de alunos deixaram de frequentar a escola durante o ano letivo em curso ou tiveram frequência escolar insuficiente (abandonaram a escola) e quase 110 mil alunos não apresentaram os requisitos de aproveitamento e/ou frequência escolar necessários. Há de se considerar que são números grandes e preocupantes e o questionamento sobre os motivos e as causas dessas taxas não podem passarem despercebidos das políticas estaduais para educação.

2.3 DADOS MUNICIPAIS
O universo municipal considerado (Russas, CE) se refere, como nos outros casos, ao senso de 2013, que contabiliza uma média de quase 15 mil alunos matriculados em Instituições Educacionais da Educação Básica, considerando o Ensino Fundamental em suas modalidades, bem como o Ensino Médio, também em suas modalidades. A essa média geral segue os dados de Aprovação, Reprovação e Desistências[7].



             Da mesma forma que em âmbito Nacional e Estadual, o município de Russas, interior do Ceará, apresenta índices de abandono e reprovação aparentemente muito próximos, também proporcionalmente, sugerindo um melhor rendimento nos anos de transição entre o fim de uma etapa e outra. Porém, em se tratando de uma análise mais aprofundada e comparativa, percebe-se que, em âmbito municipal, há uma incidência maior de reprovações em relação à média nacional e estadual, o que não acontece com o índice de abandono. Porém, de um ponto de vista comparativo, a realidade educacional de Russas parece assumir como desafio o que revela no seu índice de Reprovação.
Ao Município cabe a responsabilidade pela Educação Básica em sua modalidade de Ensino Fundamental, obviamente no município. Os dados em âmbito municipal, particularmente, se mostram mais preocupantes, principalmente no que diz respeito ao índice de aproveitamento. Por exemplo, só no ano de 2013, num universo de 39 escolas públicas e quase 10 mil matrículas, mais de mil alunos não apresentaram os requisitos de aproveitamento e/ou frequência escolar necessários. Há de se considerar que são números grandes e preocupantes e o questionamento sobre os motivos e as causas dessas taxas não podem passarem despercebidos das políticas municiais.
Observe-se, junto a esses dados, alguns outros de caráter infraestrutural[8], considerando que junto a esses dados estão as três escolas de Ensino Médio localizadas no município, o que garante aos dados municipais um aumento nos índices, considere: menos de 14% das escolas do município dispõe de acesso a esgoto via rede pública; menos da metade delas, ou seja menos de 50%, dispõe de Biblioteca; menos de 10% dispõe de laboratório de ciências;  40% não dispõe de quadra de esportes; menos de 40% não dispõe de sala de leitura; menos de 30% oferece um espaço para atendimentos especiais; menos de 50% dispõe de máquina copiadora; menos de 20% tem projetor (datashow) para fins pedagógicos; metade delas dispõe de internet e menos da metade dispõe de internet banda larga; menos de 20% dispõe de acesso adequado e sanitários a portadores de deficiência.
            O confronto dessas duas realidades, índices estatísticos de desempenho e infraestrutura educacional, possibilita uma análise comparativa da educação que considere os mesmos dados a partir de dois olhares – muitas vezes distintos e contraditórios – entre TEORIA e PRÁTICA. É o que se proporá de forma conclusiva.

 
3.      OBSERVAÇÕES CONCLUSIVAS
            Os dados estatísticos que oferecem indicadores e critérios para avaliar o sistema educacional brasileiro são importantes, disso não se duvida. Porém, há de se considerar que um dado, pura e simplesmente estatísticos, em muitos casos, não condiz com a realidade prática educacional vivida por quem mais perto está da educação: o professor e o gestor escolar.
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro[9] a realidade educacional que é mostrada em pesquisas que avaliam índices de desempenho (o IDEB não está isento dessa regra) nem sempre condizem ou refletem os grandes desafios que a educação vive na realidade de sua prática pedagógica. Por exemplo, os resultados do IDEB desde último ano de 2013 revelam, particularmente, um crescimento gradual, coerentemente de acordo com a meta de crescimento no Ideb estabelecidas politicamente pelo Plano Nacional de Educação vigente, seja em âmbito Federal, estadual ou Municipal. Teoricamente há um crescimento nos índices quantitativos, porém, a prática percebida é de uma defasagem, também gradual, do índice de aproveitamento a partir da visão prática do educador, seja ele atuando na sala de aula, seja atuando na gestão escolar.
Em muitos casos, há uma tendência a assegurar, principalmente no período da aplicação dos exames, de onde saem os dados, práticas pedagógicas que tem o objetivo de aumentar tais índices. Ou seja, há uma tendência generalizada de se priorizar a obtenção de resultados no final de cada uma das duas etapas da Educação Básica. E isso ficou evidente nos gráficos apresentados. Evidentemente, em qualquer sistema de ensino sério, os bons resultados são resposta de um bom trabalho pedagógico feito nesse mesmo sistema de ensino. Porém, os resultados podem ser “mascarados”. E para que? Sabe-se que os índices e indicadores quantitativos da educação, hoje no Brasil, funcionam como ferramentas de direcionamento de recursos públicos para o Estado, Rede de ensino, Município e suas instituições educativas. Cabe perguntar qual a opção que nossas instituições públicas de educação estão sendo forçadas a fazer através do próprio sistema educacional. Se está privilegiando a obtenção de metas educacionais exclusivamente quantitativas para melhorar os mesmos índices e, assim, garantir recursos; ou se está privilegiando uma educação qualitativa sob o perigo de não mostrar os índices exigidos pelo sistema. Ou quem sabe – e isso pareceria o mais ideal – faz-se uma opção pedagógica que possibilite um equilíbrio entre essas duas tendências.

4.      REFERÊNCIAS

EDUCAÇÃO, Ministério da. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). In: http://portal.inep.gov.br/, acessado em 26 de março de 2015.

LEMANN, Funcação. QEdu. In.: http://www.qedu.org.br/, acessado em 26 de Março de 2014.

MONTENEGRO, Instituto Paulo. Como o Professor vê a Educação. In.: http://www.fvc.org.br/estudos-e-pesquisas/avulsas/estudos1-1ser-professor.shtml?page=0. Acessado em 27 de Março de 2015.




[1] Aluno do Curso de Gestão Pedagógica. Secretaria de Apoio às Tecnologias Educacionais (SATE) da Universidade Estadual do Ceará. Turma 2014.2. Email: josewilsongp@gmail.com         
[2] O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC), cuja missão é promover estudos, pesquisas e avaliações sobre o Sistema Educacional Brasileiro com o objetivo de subsidiar a formulação e implementação de políticas públicas para a área educacional a partir de parâmetros de qualidade e eqUidade, bem como produzir informações claras e confiáveis aos gestores, pesquisadores, educadores e público em geral.
[3] O universo nacional que considerado, obviamente, é o Brasil. Em âmbito Estadual se referirá aos dados do Estado do Ceará. Já em âmbito Municipal, se considerará os dados do Município de Russas, cidade localizada na Região do Vale do Jaguaribe, interior do Ceará.
[4] O QEdu é um sistema on-line em que o cidadão comum pode consultar, gratuitamente, de maneira intuitiva, dados da educação brasileira e acompanhar a evolução do ensino no país. Foi produzido, em 2012, pela Fundação Lemann e a Meritt Informação Educacional.
[8] http://www.qedu.org.br/cidade/3682-russas/censo-escolar?year=2013&dependence=0&localization=0&item=
[9] Esta pesquisa, “Como o Professor vê a educação”,  foi desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) sob encomenda da Fundação Victor Civita (FVC). O artigo que segue foi elaborado pela equipe técnica do Instituto Paulo Montenegro, organização sem fins lucrativos vinculada ao Grupo Ibope.

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