Querida e
companheira Dilma, querido e companheiro Camilo,
Paz!
Sou educador, professor, cristão católico e cidadão
brasileiro. Comecei a escrever essa carta há, exatamente, uma semana das
eleições do 2º turno e tenho a convicção de que a esperança há de vencer o
ódio. Sim Dilma, você será reeleita Presidenta da República Brasileira e, Camilo, você será eleito Governador do Estado do Ceará, e a vitória
será linda e emocionante de se ver e continuará sendo de cada brasileiro, de cada cearense. Eu, particularmente me
permitirei o direito de celebrar estas duas vitórias com um pouco mais de
orgulho e explico porque... Sou filiado ao Partido dos Trabalhadores, militei
nestas eleições como nunca tinha feito antes, mesmo contra todo ódio e contra toda
propaganda difamatória elitista. Nunca recebi um tostão sequer para atuar como
militante, acredito, sigo e faço parte de um PT que tem em suas bases a luta
pela justiça e igualdade social, que faz opção preferencial pelos mais pobres e
pelos trabalhadores. Defendi os projetos do PT tanto para o governo federal
quanto para o governo estadual do Ceará. Defendi as causas e, em muitos casos,
me calei e aceitei com resignação alianças que, como militante, nunca entendi e
aceitei... Mas acolhi, consciente de que nem toda política partidária deve ser,
absolutamente, personalista e individual...
Hoje, domingo, 26 de outubro de 2015, depois de ver
e celebrar a vitória dos projetos políticos que ajudei a eleger, não me curvo
ao sentimento de dever cumprido. Muito pelo contrário, penso que minha luta
como educador e militante continua, contribuindo no debate político para
colhermos tudo aquilo que semeamos na campanha. Exatamente por isso, quero
começar (ou dar continuidade, que seja...) a essa luta dando uma contribuição
como educador.
Durante nossa campanha percebi muitos discursos e
propagandas sobre nossa educação brasileira e cearense. É inegável os avanços
na educação do Brasil e do Ceará, das propostas de escolas de tempo integral e
de formação técnica, do acesso democrático à universidade e tantos outros
projetos que contribuem para o crescimento da educação de nosso país. Como
educador compartilho e contribuo com esse processo, de seus resultados e
avanços.
Porém, ao mesmo tempo, me preocupa a dicotomia que
se afirma entre formação técnica x formação regular (particularmente de humanidades),
consequentemente a omissão sobre um debate coletivo que busque garantir a
qualidade de nossa educação básica regular em detrimento de uma priorização da
formação tecnicista. Digo omissão, pois o discurso de promoção da formação
técnica parece diminuir a formação regular. Não tenho, absolutamente, nada
contra a formação técnica, pelo contrário, reconheço sua necessidade para um
país em desenvolvimento econômico, como é o caso do Brasil e do Estado do
Ceará. O que me preocupa é a hegemonia de um discurso que assume uma postura de
preponderância de uma em relação à outra, mesmo que de forma não intencional.
A história tem mostrado que, dentro da esfera
pública, quando se estabelece um dualismo entre dois modelos de serviço
público, tende-se a privilegiar um em relação ao outro. Bem, estamos falando de
dois modelos de educação, o tecnicista e o regular. Tenho plena certeza da
teoria que diz sobre a necessidade de integrar as duas propostas. Os modelos de
escolas profissionalizantes em nosso Estado têm mostrado isso, mas ainda, na
prática educacional, ainda não da forma ideal que precisamos. A diferença
salarial entre professores técnicos e da base comum ainda é grande e injusta. A
grade curricular e a proposta pedagógica tecnicista e quantitativa parece
preocupar mais que a humanística e qualitativa. É evidente que precisamos de
uma reforma curricular, mas esta não deve ser feita com a afirmação deste
dualismo excludente.
Hoje, no Brasil e no Ceará formamos, todos os anos,
milhares de jovens com formação técnica para o mercado de trabalho. E isso é
muito bom! Mas os mesmos profissionais que saem de nossas escolas e institutos
técnicos estão saindo mais humanizados?! Como educador e professor lhes afirmo
que não, pelo menos da forma como nossa infante democracia exige. E digo isso a
partir de minha prática docente, como educador da área de ciências humanas.
Desde os recursos e acompanhamento pedagógico dos educadores desta área, até o
interesse do educando com essas disciplinas, percebo uma contradição
institucional que estabelece prioridades estatísticas e esquece da qualidade do
processo educativo em nossas escolas públicas. Há, no ensino básico e médio
profissionalizante público brasileiro, um perigo acadêmico: o de estarmos
priorizando a quantidade da formação tecnicista e esquecendo a qualidade da
formação humanística. E isso terá (se já não estiver tendo) graves consequências
para a democracia brasileira. Sabemos que o tecnicismo pode se tornar uma
ferramenta eficaz para a afirmação da exclusão social e do estabelecimento de
classes que se autodestroem no mercado e no modelo capitalista vigente. Não
basta somente formar tecnicamente, é preciso lançar no mercado de trabalho um
jovem consciente de seus direitos e deveres, humanamente consciente/crítico e
livre, para ajudar na construção da sociedade igualitária que precisamos. E a
educação pode se tornar uma arma poderosíssima, seja para afirmar a consciência
crítica e livre ou, contraditoriamente, para legitimar a segregação em todos os
níveis...
Como educador, quero alertá-los para este perigo.
Sou parte do projeto político que tem em suas bases o diálogo democrático, a
crítica constante e a liberdade de expressão. Hoje posso rasgar o peito para
afirmar que este modelo está representado no Brasil, por você Dilma e no Ceará,
por você Camilo e que sou parte dele. Por isso, esta carta está para além de
ser uma mera formalidade, ela é - pelo menos para mim - o primeiro atestado de
afirmação do poder político popular e do meu protagonismo como educador na
construção do Brasil e do Ceará que precisamos, junto com vocês Camilo e Dilma.
Um grande
e fraterno abraço, com paz e aquela esperança insistente,
José
Wilson Correa Garcia
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