“O Plano Nacional de Educação -
PNE foi aprovado praticamente por unanimidade por todos os partidos, e
tanto nos programas de governo da candidata à Presidência da República
Dilma Rousseff, como também dos candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos,
o PNE é quase totalmente marginalizado. Então, não existe um
compromisso de fato em fazer com que o PNE seja um instrumento basilar
da área de educação e da própria gestão pública como um todo”, adverte o
cientista político.
Foto: criticabaixadasantista.blogspot.com.br |
“O texto do Plano Nacional de Educação - PNE
foi muito tímido perante as necessidades na área de educação (...) e é
muito aquém das necessidades e daquilo que a sociedade brasileira
precisava ter como base em um Plano Nacional de Educação”, avalia Daniel Cara, em entrevista à IHU On-Line, concedida por telefone.
O PNE (PL 8035/10), aprovado na Câmara dos Deputados
no mês passado, estipula as metas educacionais para os próximos dez
anos com o objetivo de melhorar os índices educacionais do país.
De acordo com Daniel Cara,
alguns pontos acrescentados ao Plano pelos parlamentares são
“contraditórios com o conjunto do texto”, como a permissão para
parcerias público-privadas e a remuneração dos professores por
resultados. “O problema é que remunerar os professores por cumprimento
de metas relacionadas a testes padronizados acaba sendo uma medida
contraproducente à qualidade da educação, a qual tem sido revogada mundo
afora. Então, infelizmente, o Plano estimula no Brasil uma prática que já é ultrapassada em países mais desenvolvidos em termos educacionais”, critica.
Coordenador Geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação desde junho de 2006, Daniel Cara assinala que, entre as propostas do PNE,
destaca-se a tentativa de universalizar, até 2016, o atendimento
escolar para toda a população de 15 a 17 anos e elevar, até 2020, a taxa
líquida de matrículas no ensino médio para 85%. Outra preocupação do Plano
é em relação à redução das taxas de analfabetismo e analfabetismo
funcional de 30 milhões de brasileiros, sendo destes pelo menos dois
milhões de jovens. Segundo ele, o ensino brasileiro, sobretudo os anos
finais do ensino fundamental, “que é exatamente a etapa anterior ao
ensino médio, é de baixa qualidade. (...). Isso resulta em uma população
que, quando ingressa na universidade, não tem a formação básica
necessária para fazer um bom curso e depois se tornar um profissional
pleno. Trata-se, portanto, de um prejuízo grande para o próprio
desenvolvimento do país”.
Favorável à expansão do ensino superior no Brasil,
ele é categórico: “não dá para expandir a educação superior a qualquer
custo e em qualquer nível, é preciso expandir a educação superior com
qualidade, e isso não é tão simples”. As melhorias e os investimentos
devem ser feitos na educação superior pública, sugere, e reitera: “O
ponto chave que precisa ser bastante providenciado é que Prouni e Fies
devem ser tratados como medidas emergenciais, mas dificilmente se
tornarão medidas emergenciais, porque têm grande impacto social. É claro
que é melhor o acesso a alguma educação de ensino superior do que
nenhuma, mas a qualidade dessa educação superior é muito baixa. A
capacidade dessa educação superior com Prouni ou Fies
em gerar, por exemplo, melhor empregabilidade ou conseguir romper as
dificuldades econômicas brasileiras em áreas que são chave, é enorme,
porque a formação é quase sempre pior do que a formação ofertada pelas
escolas técnicas de nível médio.
Então, não vejo Prouni e Fies
como a solução, nem como a principal política de expansão da educação
superior, como tem sido tratado pelo governo. A principal política de
expansão da educação superior tem de ser na educação pública superior; é
essa que tem, tradicionalmente, mais qualidade”. A crítica se estende
ainda à atuação do Ministério da Educação na fiscalização dos cursos nas universidades privadas, que foram amplamente expandidas em todo o país. “O Ministério da Educação regula um pouquinho as áreas que considera mais sensíveis, como a do Direito, da Medicina,
mas, por exemplo, nos cursos de licenciaturas e Pedagogia, se vê que
essa regulamentação não ocorre. Como resultado, percebemos que tem
aumentado muito a quantidade de professores que não têm condições de dar
aula.”
Daniel Cara também questiona o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego - Pronatec,
o carro-chefe do governo federal. “Do lado de educação técnica de nível
médio, a perspectiva do plano é de enfrentamento à nova visão do
Pronatec da presidente Dilma, que tem uma visão do ‘curso a qualquer custo’. Então, é oferecido qualquer curso para qualquer formação profissional, o qual não garante empregabilidade. (...)
O Pronatec traz muito
retorno para o governo por conta da facilidade na criação de matrículas,
pelo retorno de propaganda e, além disso, traz um retorno que faz parte
do jogo político, que é o de financiamento de campanha, como o Prouni e o Fies também trazem”, enfatiza.
Daniel Cara é bacharel em Ciências Sociais e mestre em Ciência Política pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo - USP. É membro titular do Fórum Nacional de Educação e foi membro da direção da Campanha Global pela Educação entre janeiro de 2007 e fevereiro de 2011. Hoje é membro do Comitê Diretivo da Campanha Latino-Americana pelo Direito à Educação - Clade.
Fonte: IHU - UNISINOS.
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