Como seria tão fácil não ser humano, meu Deus!
Não ter que sentir a dor da distância e da saudade.
Como seria fácil amar sem limites,
pensar que poderíamos fazer do tempo e do espaço
a possibilidade de ser mais intensos e imortais.
Não ter que buscar palavras
impossíveis de expressar o essencial
sem ao menos, submeter-se ao medo,
à vergonha...
Como seria fácil ser fraco
para sentir-se dentro de tudo.
Não ter que se esconder – do confronto –
para não dizer que se é vulnerável...
Devo estar – há muito tempo – longe do Mar.
Sinto falta do seu cheiro,
de pisar suas ondas que,
eternamente, vão e vem...
Saudades do desenho – imagem – da lua
que, na noite, dança extasiada por suas águas...
Ali, onde a liberdade parece consumir o mundo,
sem que ninguém nada perceba...
Ali onde a verdade de cada coisa
parece se escancarar...
Pensar em ti, ó Mar,
é reconhecer que tú precisas de mim...
é reconhecer que eu preciso de ti...
E nessa humana dependência
dou razão de ser à tuas ondas.
E elas, a meus pés que caminham descalços
entre tantas verdades sentidas...
Não posso renunciar a essa dependência
que me faz assemelhar-me a ti.
Não posso desejar o que não é parte de mim,
sob o perigo de perder-me
no esquecimento da tua solidão...
Preciso voltar a ser criança
para desejar sempre pisar
o infinito desconhecido desta vida...
Sem medos,
Sem vergonhas,
Sem facilidades...
Preciso renunciar ao que me tornei
para ser apenas o que sou...
José Wilson Correa Garcia
Belo
horizonte. Primeira noite de Outubro, 2006.