Não há maior incoerência entre os
cristãos de hoje do que pertencer a uma religião que não o faz olhar para as
injustiças e desigualdades da sociedade em que se vive. Mais ainda, é
anacrônico pensar que posso viver uma experiência de fé tão pessoal sem me
comprometer com a construção de um mundo melhor, de um país melhor, de uma
cidade melhor, de um bairro melhor, de uma família melhor... Exatamente por
isso, a fé é uma opção Política, no sentido verdadeiramente grego (penso que
não preciso esclarecer seu sentido verdadeiro, suponho que o bom entendedor já
o consiga fazê-lo, caso contrário não precisa continuar lendo). E mesmo sem
conhecer os gregos, Jesus de Nazaré, seu projeto de vida e sua missão partem de
uma experiência fundamentalmente de fé-comprometida e, por isso mesmo,
Política.
Há muitas inspirações bíblicas
que afirmam isso, entre elas a pergunta desconcertante presente na Carta de
Tiago: “...se alguém diz que tem fé, mas não tem obras, do que adianta isso?” A
vida do próprio Jesus pode nos ajudar a esclarecer o sentido verdadeiro daquilo
que constantemente é chamado e narrado pelos textos bíblicos como “obras”. Sim,
Jesus poderia somente curar feridas e doenças, somente oferecer acolhida a quem
não tinha nada, poderia somente distribuir bens aos muitos pobres e miseráveis
de seu tempo, mas ele foi além disso... Suas obras são marcadas por uma opção
Política. O leproso curado é convidado a se apresentar àquelas instituições e
àqueles que o afirmavam como socialmente impuro. À “pecadora” perdoada é
devolvida a dignidade como mulher, esquecida pela cultura machista e
pré-conceituosa. E tantos outros exemplos...
Para Jesus cada situação de
“pecado”, dor e sofrimento escondiam uma raiz muito mais profunda: a injusta e
a desigualdade. Raiz que não era possível ser extirpada definitivamente somente
com a boa vontade de “obras” paliativas, ou como diria hoje, de “obras”
assistencialistas. De que adiantaria perdoar a “pecadora” sem denunciar o falso
moralismo religioso e social que gera e multiplica o verdadeiro pecado no mundo?
De que adiantaria dar esmola sem lutar por uma sociedade onde não houvesse
necessidade de se pedir para viver. É nesse sentido que uma religião, uma fé e
uma experiência de Deus que não me torna politicamente comprometido, é morta,
vazia e se converte em adereço, em enfeite. Por isso, Jesus foi a chegada de
um novo tempo marcado pela esperança, construtora da Justiça e da Igualdade,
contra toda injustiça e desigualdade política (social e religiosa). Jesus foi
uma novidade, um adventus, palavra
latina que significa “chegada”, “chegar a”...
O ano do calendário litúrgico cristão começa com o
Tempo do Advento, exatamente as quatro semanas (representadas na simbologia das quatro velas) que antecedem o período natalino.
Para muitos é um tempo de alegria assistencialista, seja por causa dos
presentes na árvore de natal, seja por causa da presença e imagem da criancinha
branca de olhos azuis no presépio. Para poucos, o Advento é um momento para se
renovar a esperança política... por que, mesmo contra toda desesperança (no
mundo, no Brasil, na cidade, no bairro e na família) Deus, ainda, insiste em revelar seu
filho como fonte e anúncio da Justiça e da Igualdade, que supõe denúncia contra
toda injustiça e desigualdade...
José Wilson Correa Garcia, blogueiro e educador.
José Wilson Correa Garcia, blogueiro e educador.
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