quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A ESPERANÇA POLÍTICA DO ADVENTO

Não há maior incoerência entre os cristãos de hoje do que pertencer a uma religião que não o faz olhar para as injustiças e desigualdades da sociedade em que se vive. Mais ainda, é anacrônico pensar que posso viver uma experiência de fé tão pessoal sem me comprometer com a construção de um mundo melhor, de um país melhor, de uma cidade melhor, de um bairro melhor, de uma família melhor... Exatamente por isso, a fé é uma opção Política, no sentido verdadeiramente grego (penso que não preciso esclarecer seu sentido verdadeiro, suponho que o bom entendedor já o consiga fazê-lo, caso contrário não precisa continuar lendo). E mesmo sem conhecer os gregos, Jesus de Nazaré, seu projeto de vida e sua missão partem de uma experiência fundamentalmente de fé-comprometida e, por isso mesmo, Política.
Há muitas inspirações bíblicas que afirmam isso, entre elas a pergunta desconcertante presente na Carta de Tiago: “...se alguém diz que tem fé, mas não tem obras, do que adianta isso?” A vida do próprio Jesus pode nos ajudar a esclarecer o sentido verdadeiro daquilo que constantemente é chamado e narrado pelos textos bíblicos como “obras”. Sim, Jesus poderia somente curar feridas e doenças, somente oferecer acolhida a quem não tinha nada, poderia somente distribuir bens aos muitos pobres e miseráveis de seu tempo, mas ele foi além disso... Suas obras são marcadas por uma opção Política. O leproso curado é convidado a se apresentar àquelas instituições e àqueles que o afirmavam como socialmente impuro. À “pecadora” perdoada é devolvida a dignidade como mulher, esquecida pela cultura machista e pré-conceituosa. E tantos outros exemplos...
Para Jesus cada situação de “pecado”, dor e sofrimento escondiam uma raiz muito mais profunda: a injusta e a desigualdade. Raiz que não era possível ser extirpada definitivamente somente com a boa vontade de “obras” paliativas, ou como diria hoje, de “obras” assistencialistas. De que adiantaria perdoar a “pecadora” sem denunciar o falso moralismo religioso e social que gera e multiplica o verdadeiro pecado no mundo? De que adiantaria dar esmola sem lutar por uma sociedade onde não houvesse necessidade de se pedir para viver. É nesse sentido que uma religião, uma fé e uma experiência de Deus que não me torna politicamente comprometido, é morta, vazia e se converte em adereço, em enfeite. Por isso, Jesus foi a chegada de um novo tempo marcado pela esperança, construtora da Justiça e da Igualdade, contra toda injustiça e desigualdade política (social e religiosa). Jesus foi uma novidade, um adventus, palavra latina que significa “chegada”, “chegar a”...
O ano do calendário litúrgico cristão começa com o Tempo do Advento, exatamente as quatro semanas (representadas na simbologia das quatro velas) que antecedem o período natalino. Para muitos é um tempo de alegria assistencialista, seja por causa dos presentes na árvore de natal, seja por causa da presença e imagem da criancinha branca de olhos azuis no presépio. Para poucos, o Advento é um momento para se renovar a esperança política... por que, mesmo contra toda desesperança (no mundo, no Brasil, na cidade, no bairro e na família) Deus, ainda, insiste em revelar seu filho como fonte e anúncio da Justiça e da Igualdade, que supõe denúncia contra toda injustiça e desigualdade...

José Wilson Correa Garcia, blogueiro e educador.

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