Há muita movimentação, principalmente nas rede sociais sobre o movimento VETA DILMA. Mais do que um movimento, é uma ação coletiva dos movimentos sociais contra as consequências do modelo do código florestal que está sendo proposto pelo governo. Eis, abaixo, uma análise de conjuntura muito boa que achei no portal ECODEBATE. Poderá ajudar a entender melhor essa atual movimentação social no Brasil hoje... Boa leitura!
Código Florestal atropela Rio+20
A presidente Dilma Rousseff corre contra o tempo. Precisa desativar
uma bomba de efeito devastador a curtíssimo prazo. Daqui a pouco mais de
um mês, o país sediará a Rio+20 e a aprovação do retalhamento do Código
Florestal às vésperas da Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável
empurra o país para uma situação delicada uma vez que é o anfitrião do
evento. Da pretensa “vanguarda” no debate mundial sobre a mitigação do
aquecimento global, o país pode correr o risco de passar vexame. A
decisão está nas mãos de Dilma.
Rompendo acordo com o governo, os ruralistas aprovaram o retalhamento
do Código ampliando ainda mais os retrocessos do texto aprovado no
Senado.
O resultado foi uma derrota para o governo que defendia a aprovação
na íntegra do texto definido no final do ano passado. Reiteradas falas
do governo anunciaram que o texto dos senadores não era o ideal, mas o
possível de ser alcançado pela mediação dos interesses presentes no
Congresso Nacional. A bancada ruralista, entretanto, mantendo-se fiel
aos seus interesses de classe desconsiderou a posição do Palácio do
Planalto e atropelou a tudo e a todos.
Agora o governo encontra-se numa saia justa. A participação do país
na Rio+20 – ousadia ou vexame – está condicionada à postura que a
presidente Dilma adotará em relação às alterações do Código Florestal.
Organizações ambientalistas internacionais já afirmam que o Brasil pode
estar perdendo a liderança no movimento ecológico global caso mantenha
as alterações no Código Florestal.
Representantes da WWF e do Greenpeace disseram que o Brasil sempre
foi visto como um dos países mais ativos na promoção de ideias
ambientais em fóruns internacionais, como as reuniões sobre mudanças
climáticas da ONU. Mas, a aprovação do texto do deputado Paulo Piau
(PMDB-MG) pode provocar uma mudança nessa percepção. “É um choque
estarem alterando o Código Florestal que protege a floresta amazônica.
Com a proximidade da Rio+20, isso bota muita pressão sobre a presidente
Dilma Rousseff. Será muito difícil para ela se apresentar como defensora
do ambiente”, disse Sarah Shoraka, ativista especialista em florestas
do Greenpeace do Reino Unido.
“Durante a campanha ela [Dilma Rousseff] havia dito que não apoiaria
nenhuma legislação que aumentasse o desmatamento e que desse anistia a
criminosos, mas a proposta atual faz exatamente essas duas coisas. Agora
é tudo uma questão da credibilidade dela, e o quanto ela está disposta a
mudar”, reafirmou Sarah Shoraka. Segundo ela, “o Brasil tem uma
trajetória de país moderno, que sempre esteve na liderança dos
compromissos ambientais tendo em vista a sua posição na Conferência de
Mudanças Climáticas de Copenhague [2009]. O país sempre esteve na frente
e puxando os outros países. A aprovação deste texto é um retrocesso”,
disse a ativista.
E agora Dilma?
Para os ambientalistas que acompanharam o embate em Brasília, o
sentimento é de tristeza. “Estamos tentando digerir o que aconteceu.
Estamos nos preparando para ajudar a presidente Dilma a exercer poder de
veto completo”, afirmou Maria Cecilia Wey de Brito, secretária-geral.
Para ela, “a mensagem para a sociedade brasileira é negativa. Fica claro
que os deputados acham aceitável que as pessoas que cometem ilegalidade
sejam perdoadas. E quem sempre cumpriu a lei fica se achando
injustiçado”.
Sobre as mudanças no Código Florestal, a ex-ministra Marina Silva
afirma que “as avaliações são unânimes em dizer que foi o maior
retrocesso no arcabouço institucional das políticas socioambientais no
Brasil desde a ditadura”. “Agora é a hora de se confirmar para quem esse
governo foi eleito”, destaca o jornalista Leonardo Sakamoto. Segundo
ele, “seja qual for a decisão que Dilma tomar sobre o novo Código
Florestal, aprovado pela Câmara dos Deputados, ela será emblemática.
Mostrará o que será o resto do seu mandato presidencial”.
Com o peso de ter sido ministra do meio ambiente e forte
credibilidade internacional, Marina Silva, comentou que “o novo Código
Florestal aprovado pela Câmara é tudo, menos florestal”. Segundo a
ex-ministra, “a presidente Dilma terá que decidir qual modelo de
desenvolvimento quer para o país. Não dá para ter na mesma base de apoio
o sonido da motosserra e o canto do uirapuru. Agora, resta a ela usar
seu poder de veto ou compactuar com o que está posto. Chegou a hora da
verdade. Veta, Dilma. Veta tudo, não pela metade”, pede ela.
Marina Silva, tendo presente a proximidade da Rio+20 e provável
pré-candidata à presidência em 2014, dá uma estocada em Dilma: “Temos
todas as condições de liderar o processo de transição para o
desenvolvimento sustentável. O Brasil pode ser para o século XXI o que
os Estados Unidos foram para o mundo no século XX. Mas são necessárias
visão antecipatória e determinação de perseguir nosso destino de grande
potência socioambiental. Não é fácil fazer a melhor escolha, porém é na
pressão dos grandes dilemas que se forja a têmpera dos que estão afiados
a talhar os avanços da história”.
A proximidade da Rio+20 e o impacto da decisão da Câmara dos
Deputados é também destacada pelo deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ):
“Vivemos aqui um momento importante, vai ser votado, com os olhos do
mundo em nós, esse retrocesso espantoso na política ambiental. Estamos a
dois meses da Rio+20, e esta casa se prepara para dar um espetáculo
deprimente de farsa. Farsa quando se pretende defender aqui os pequenos
proprietários. Aqui, o que está em questão é interesse de especuladores
de terra que vão ganhar fortuna quando não houver necessidade de se
recompor áreas de preservação permanente”.
O deputado acrescentou que “diante desse desafio à sua autoridade, e
do vexame que o Brasil irá sofrer perante o mundo com a aprovação da
proposta, só restará à presidente Dilma vetar o relatório”.
A decisão de Dilma não será fácil. “Se Dilma vetar a maior parte do
texto, estará apoiando os que atuam na defesa de um desenvolvimento
minimamente sustentável e na garantia da qualidade de vida das gerações
futuras. Isso vai satisfazer ambientalistas, cientistas, parte dos
formadores de opinião e da sociedade civil, alguns ministros” diz
Sakamoto. Porém, acrescenta ele, “comprará uma boa briga com a Frente
Parlamentar da Agricultura, vulgo Bancada Ruralista, federações de
produtores rurais, outros ministros e grandes empresas do agronegócio –
que veem no instrumento uma forma de facilitar seus processos produtivos
e aumentar seu poder de concorrência e ou sua taxa de lucro”.
Se sancionar o Código Florestal, entretanto, diz o jornalista “vai
mandar um recado claro: as políticas sociais e ambientais, declaradas
como prioritárias, serão aplicadas desde que dentro de limites impostos
pela governabilidade. Ou seja, cada situação tem sua implicação. Agora é
a hora de se confirmar para quem esse governo foi eleito”, conclui.
Dilma não vem sendo poupada pelo retalhamento do Código Florestal.
Para o ex-secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente João Paulo
Capobianco, o Código representa um retrocesso jamais visto, após muitas
tentativas fracassadas. Ele afirma que, pela primeira vez, um governo
cedeu, por omissão, e abriu a porteira para as demandas dos
conservadores: “Eu diria que a presidente Dilma, entre o desenvolvimento
acelerado e a conservação ambiental, ela não pensa na compatibilização.
Suas ações recentes mostram claramente isso. Ela compartilha,
inclusive, com o resultado da negociação do Código no Senado, que era um
enorme retrocesso também”.
Diante da forte repercussão negativa da aprovação do novo Código –
basta dar uma olhada nas tuitadas -, o ministro da Secretaria-Geral da
Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que a presidente
Dilma Rousseff vai analisar o novo Código Florestal com “sangue frio e
tranquilidade”. “Como nos é dado pela Constituição o direito do veto, a
presidente vai analisar com muita serenidade, sem animosidade, sem
adiantar nenhuma solução”, afirmou.
Há sinais, entretanto, dada a forte repercussão negativa e a
proximidade com a Rio+20 que a presidente vai vetar os artigos mais
polêmicos do Código Florestal. Entre eles, os que tratam da recomposição
das matas ciliares e da “anistia” a desmatadores. “Ela vai meter a
caneta e chegar à Rio+20 carregada”, diz um influente líder do PT,
destaca a imprensa.
Gilberto Carvalho disse que a Rio+20 deve pesar na decisão da
presidente, mas nem tanto: “Menos, porque é um episódio. Mais importante
é o nosso cuidado com a preservação e o modelo de desenvolvimento
sustentável que nós pregamos”, disse. “Importante é o crescimento, a
inclusão social e o cuidado com a natureza. É a preservação pensando no
presente e nas gerações futuras. Isso sim e, evidentemente, os
compromissos que ela assumiu durante a campanha serão os parâmetros que
vão nos orientar”.
Representantes da bancada ruralista, porém, tem desafiado a
presidente e prometem resistir no caso de um veto. O deputado Henrique
Eduardo Alves (PMDB-RN), paradoxalmente um dos líderes do governo na
Câmara dos Deputados e dos que mais se empenharam pelas alterações no
Código Florestal, redigido por Piau, disse que “o governo é
ambientalista, mas também é ruralista, é pecuarista”, numa indicação do
forte corporativismo do agronegócio na Câmara do Deputados . O relator
do retalhamento do Código Paulo Piau (PMDB-MG), disse por sua vez que
espera “que a presidente não queira dar satisfação para o mundo e para a
opinião pública nacional”.
No caso de um eventual veto parcial Dilma, o ministro do
Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas, que esteve reunido com a
presidente pós-alteração no Código Florestal, não crê em derrubada de
veto por parte do Congresso. Para derrubar um possível veto da
presidente é preciso maioria absoluta tanto na Câmara dos Deputados
quanto no Senado Federal, ou seja, o aval de 257 deputados e 41
senadores.
Código Florestal e suas implicações do local para o global
Aprovação da flexibilização do Código Florestal é um enorme
retrocesso quando se tem presente o debate sobre a crise climática e,
ainda mais grave, quando se está às vésperas da maior Conferência
mundial que debaterá como transitar para uma economia de baixo carbono. O
fato do Brasil sediar a Conferência aumenta suas responsabilidades.
Já está claro que muito se avançou na consciência planetária da
gravidade sobre a crise climática. Contribuiu decisivamente para essa
nova consciência o relatório do IPCC de 2007 ao afirmar que já não há
mais contestação de que o responsável pela evolução acelerada da
tragédia ambiental é a ação antropogênica sobre a Terra. Os
pesquisadores e cientistas à época foram categóricos e não deixaram
espaço para dúvidas ao afirmar de forma contundente – o relatório
utilizou a expressão “inequívoca” – que o aquecimento global se deve à
intervenção humana sobre o planeta.
De lá para cá, porém, aumentou ainda mais a percepção da gravidade da
crise climática. O próprio IPCC num relatório de março de 2012
intitulado “Relatório Especial sobre Gerenciamento de Riscos de Eventos
Extremos e Desastres para o Avanço da Adaptação Climática (SREX)” alerta
que o momento é de se preparar para “os eventos extremos que já são
inevitáveis”.
O quadro hoje seria pior do que o alardeado pelos cientistas no
relatório de 2007 e alguns limites planetários já foram ultrapassados:
os do aquecimento global, a extinção de espécies e o ciclo do
nitrogênio. Outros quatro estariam próximos: uso da água doce, conversão
de florestas em plantações, acidificação dos oceanos e ciclo do
fósforo. Os outros dois são a contaminação química e a carga de
aerossóis na atmosfera.
Dados sobre o ano de 2011, apresentados pelo Escritório das Nações
Unidas para a Redução de Riscos de Desastres (UNISDR), por exemplo, dão
conta de que ocorreram “302 desastres naturais, que mataram 29.782
pessoas, principalmente na Ásia”. No caso do Brasil, registrou-se 900
mortes “causadas pelos impactos das inundações e dos deslizamentos de
terras provocados pela chuva”. Todos esses desastres, além de ceifarem
vidas, geraram prejuízos de US$ 366 bilhões.
A responsabilidade do agravamento está diretamente vinculado ao tipo
de desenvolvimento econômico implantado, especialmente, ao longo dos
últimos dois séculos, baseado no paradigma do crescimento econômico
ilimitado, na ideia de progresso infinito e na concepção de que os
recursos naturais seriam inesgotáveis e de que a nossa intervenção sobre
a natureza se daria de maneira neutra. Na origem da crise ecológica,
portanto encontra-se o “modo de produção” e o “modo de consumo” que se
tornaram insustentáveis e incompatíveis com os limites do nosso Planeta.
É a partir desse contexto que deve ser interpretada a decisão sobre o Código Florestal e a importância da Rio+20.
Nos últimos dias, um documento assinado por dezessete grandes
cientistas ganhadores do prestigioso Prêmio Planeta Azul, reafirmam que
“o sistema atual está falido” e sugerem que “o mundo reduza rapidamente
suas emissões de gases do efeito estufa, troquem o PIB (produto interno
bruto) por uma medida mais holística de bem-estar nacional, desassociem a
destruição ambiental do consumo, reduzam os subsídios para combustíveis
fósseis e práticas agrícolas ambientalmente destrutivas, coloquem um
valor de mercado em serviços de biodiversidade e ecossistema, trabalhem
com movimentos de base para criar uma ação de baixo para cima, e
finalmente, combatam a superpopulação”. Os cientistas e ambientalistas
dizem que é preciso combater o “mito de que economias podem crescer para
sempre”.
A tese de que o Planeta não é sustentável sem controle do consumo e
da população vem ganhando força. Estudo recém publicado pela Royal
Society (associação britânica de cientistas) afirma que o consumo
excessivo em países ricos e o rápido crescimento populacional nos países
mais pobres precisam ser controlados para que a humanidade possa viver
de forma sustentável.
A afirmação é polêmica, porém, outros estudos vão na mesma linha ao
afirmarem que o crescente aumento da população e o seu poder de consumo
levarão os recursos naturais do Planeta ao esgotamento. Philip Stephens,
editor e comentarista político do Financial Times, destaca que o
crescimento do poder de consumo de países com China, Índia e Brasil
mudarão a geopolítica do consumo e “em 20 anos, o mundo que agora é
pobre de forma predominante passará a ser em sua maioria de classe
média”.
Os números brutos estão delineados em um relatório intitulado
Tendências Mundiais 2030 – recém -publicado pelo Instituto de Estudos de
Segurança (ISS, na sigla em inglês), com sede em Paris. Sobre o
relatório, diz o jornalista: “Pelas tendências atuais, destaca o
informe, as fileiras da classe média mundial passarão das cerca de 2
bilhões de pessoas atuais para 3,2 bilhões em 2020 e para 4,9 bilhões em
2030, quando a população mundial total seria de pouco mais de 8
bilhões. Dito de outra forma, pela primeira vez na história humana,
haveria mais pessoas na classe média do que na pobre”.
Philip Stephens cita, entre outros, o caso brasileiro: “Quase 70% dos
brasileiros deverão estar na classe média em 2030. No mesmo ano, a
América Central e América Latina terão tantos consumidores da classe
média quanto a América do Norte. A transição será mais lenta na África,
mas mesmo lá os números deverão mais do que dobrar em relação a 2030”.
Ora, as implicações dessa transformação serão profundas quando
pensadas sob a perspectiva da crise climática. Destaque-se aqui
novamente a intuição do documento dos cientistas ganhadores do prêmio
Planeta Azul: “Há uma necessidade urgente de quebrar a ligação entre a
produção e o consumo e a destruição ambiental (…) Um crescimento
material indefinido em um planeta com recursos naturais finitos e
frequentemente frágeis seria insustentável”, escrevem eles.
O capital e o mercado já têm sua proposta para superar esse eventual
impasse, a “economia verde”. O significado desse conceito que estará
entre os principais temas da Rio+20 abordaremos proximamente em outra
‘Conjuntura da Semana’.
A carta na manga brasileira para a Rio+20 pode virar um mico
Com a aprovação da flexibilização do Código Florestal, a estratégia
do governo para a Rio+20 foi por água abaixo. O governo já vinha sendo
acusado de pouca ousadia, mas tinha uma carta na manga.
Aumentam agora as expectativas de como se comportará o Brasil como
anfitrião do evento. Se carregará o fardo de conivente com uma
legislação que vai na contramão de tudo o que se defende
internacionalmente ou se terá coragem de enfrentar os setores
conservadores. As expectativas são a de que o país tenha um papel
protagonista e impulsione acordos ousados e não meramente protocolares.
Ainda antes da bomba das mudanças no Código Florestal, o país já
vinha sendo cobrado a adotar uma postura mais ousada nas negociações.
Várias ONGs criticavam a falta de ousadia do país em assumir a liderança
na defesa da sustentabilidade.
O coro da cobrança vinha ainda de setores da imprensa para quem o
“governo brasileiro precisa assumir papel de liderança se quiser evitar
fiasco político da conferência sobre desenvolvimento sustentável” e do
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – Pnuma, através do seu
diretor executivo Achim Steiner, para quem “o Brasil, como país
anfitrião, não pode deixar que a cúpula apenas reafirme os compromissos
de 1992. Isso será um fracasso. Já negociamos convenções demais. A
Rio+20 é sobre implementação”, cobrou. “Este é um momento difícil no
mundo para se fazer uma cúpula sobre desenvolvimento sustentável”,
continuou, “mas não podemos trazer 190 países e esperar pelo melhor, não
se trata de um desfile de chefes de Estado”, disse o relator do Pnuma.
Ciente da necessidade de maior ousadia na Rio+20 e das críticas em
relação ao pouco entusiasmo com a Conferência, o Brasil estaria
guardando uma carta na manga para se sair bem. Trata-se da proposta de
criação de um piso mundial de proteção socioambiental preparada pelo
país.
A proposta assemelha-se a uma espécie de Bolsa-Família em âmbito
global já incorporado como experiência-modelo pela Organização das
Nações Unidas (ONU). A ideia guarda elementos de outro programa, o Bolsa
Verde, que remunera famílias que vivem em unidades de conservação na
Amazônia e adotam práticas ambientais sustentáveis. Além de garantir uma
renda mínima para combater a extrema pobreza, o piso socioambiental
proporcionaria uma remuneração extra aos pobres pela proteção de
florestas e a recuperação de áreas degradadas.
Essa proposta é coerente com a postura do país em não separar a
questão social da temática ambiental. É no casamento das agendas de
combate à pobreza extrema e de proteção do meio ambiente que o governo
Dilma Rousseff aposta ganhar uma certa liderança para o Brasil nos
próximos debates do desenvolvimento sustentável.
O problema agora, é que com a aprovação do retalhamento do Código
Florestal falar em uma espécie de Bolsa Verde para proteger o meio
ambiente manifesta profunda incoerência. Como o país se dispõe a pagar
pela proteção do meio-ambiente se ele mesmo é leniente com uma
legislação que destrói o que a “Bolsa Verde” se propõe a proteger.
A única forma do país não sofrer um constrangimento maior é o veto ao
menos parcial da presidente Dilma Rousseff as alterações do Código
Florestal, principalmente aos artigos da anistia aos desmatadores,
recomposição e preservação de matas ciliares nos rios e intocabilidade
das APP’s – considerados áreas que protegem as margens dos rios,
encostas, topos de morro, restingas, mangues e biomas específicos.
Há, porém, outro problema para o Brasil como anfitrião do evento: o
risco do seu esvaziamento. A chanceler alemã Angela Merkel já avisou ao
governo brasileiro que não virá para a Rio+20; o primeiro-ministro
britânico, David Cameron também não virá. Além do desfalque da maior
economia europeia, é incerta também a presença do presidente dos Estados
Unidos Barack Obama na conferência que marca os 20 anos da Eco-92. A
ausência de Merkel pode representar um temor que começa a transparecer
nas falas de negociadores europeus, de que a Rio+20 não terá resultados
fortes o bastante.
#Veta Dilma. Onde está o movimento social?
Cresce o movimento para que Dilma vete as alterações no Código
Florestal. Quem puxa o movimento são as organizações ambientalistas que
desde o começo têm tido uma postura mais determinada na luta contra os
retrocessos no Código Florestal.
Essas organizações apesar de sua crescente influência na sociedade
têm ainda um poder de fogo limitado. Chegam sobretudo aos setores da
classe média e têm dificuldade de um maior enraizamento popular. Usam a
emergência da Internet com suas redes sociais e seus espaços para o
compartilhamento de dados e informações como ferramenta de pressão e
mobilização, mas ficam muitas vezes isoladas e não conseguem o apoio e
articulação de outros movimentos.
Cumprem mesmo assim um papel importantíssimo e estão puxando a
resistência às alterações no Código Florestal. É dessas organizações que
vem a chamada para que Dilma vete as mudanças e vete tudo!
Outras organizações sociais não demonstram a mesma energia nessa
luta. O Movimento Sem Terra – MST desde o início se manifestou contra a
flexibilização do Código Florestal. Nesses dias publicou nota em seu
portal afirmando que Dilma “precisa vetar todas as mudanças no Código
Florestal para proteger natureza”. Apesar dessa postura, o tema não
entrou com força na agenda do “Abril vermelho”, quando muito,
lateralmente.
A Central Única dos Trabalhadores – CUT também não tem priorizado
essa pauta. Nos últimos dias se manifestou pelo seu portal, mas a
sensação é que se trata muito mais de uma postura protocolar, não há
nenhum indício de mobilização sobre o tema. A Conlutas e a
Intersindical, organizações que se denominam mais a esquerda no espectro
sindical, tampouco tem se mobilizado com o tema. Aguardemos o 1º de
maio para ver se o Código Florestal será abordado nas manifestações.
Quem também tem decepcionado na luta contra o retalhamento do Código
Florestal é a Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros – CNBB. Apesar
de ter abordado o tema numa Campanha da Fraternidade específica – a CF
2011 – “Fraternidade e a Vida no Planeta”, o que se vê é que a entidade
tem dedicado muito das suas energias a temas como o aborto e a Jornada
Mundial da Juventude (JMJ) que se realizará em 2013 no Brasil. Reunidos
nos últimos dias em sua 50ª Assembleia Geral em Aparecida (SP) não houve
nenhuma manifestação institucional sobre o Código Florestal.
Houve, porém, um comunicado oficial da criação de uma comissão para
acompanhar o trabalho de reforma do Código penal Brasileiro. Segundo dom
Dimas Lara Barbosa, presidente da Comissão Episcopal de Pastoral para a
Comunicação da CNBB, como se trata de um tema abrangente e delicado, as
questões levantadas por alguns setores preocupam a Igreja. “Aqueles que
defendem a redução da maioridade penal, a pena de morte, a
descriminalização do aborto e alguns outros temas que não levam em conta
em primeiro lugar a pessoa humana”, disse o bispo.
As pastorais sociais, por sua vez, encontram-se fragilizadas e até
mesmo a Comissão Caridade, Justiça e Paz da CNBB não tem conseguido uma
maior articulação das pastorais sociais no debate sobre o tema e
influenciado os bispos para que se posicionem.
Dessa forma, a campanha pelo # Veta Dilma deverá crescer nas redes
sociais, mas nas ruas será frágil. A aposta para que Dilma vete ao menos
parcialmente o retalhamento do Código é a promessa da presidente ainda
na Campanha eleitoral. Na época Dilma se colocou contra os principais
pontos do texto do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e em especial o que
anistia quem desmatou ilegalmente.
Confira o que prometeu a então candidata à Presidência Dilma Roussef:
“a eventual conversão de multas só deve ocorrer após ações efetivas de
recuperação das áreas desmatadas ilegalmente”, e citou o Programa Mais
Ambiente do governo federal como um caminho seguro para a regularização
ambiental das propriedades agrícolas. Dilma diz não acreditar que a
atual legislação ambiental seja um entrave à expansão agropecuária. “O
Brasil pode expandir sua produção agrícola sem desmatar. Hoje existem 60
milhões de hectares de pasto mal utilizados ou subutilizados que
precisam ser recuperados”.
Agora é a hora de Dilma honrar sua promessa e vetar o estrago feito pela bancada ruralista.