segunda-feira, 27 de outubro de 2014

CARTA ABERTA DE UM EDUCADOR À CAMILO E DILMA

Querida e companheira Dilma, querido e companheiro Camilo,
Paz!
 
Sou educador, professor, cristão católico e cidadão brasileiro. Comecei a escrever essa carta há, exatamente, uma semana das eleições do 2º turno e tenho a convicção de que a esperança há de vencer o ódio. Sim Dilma, você será reeleita Presidenta da República Brasileira e, Camilo, você será eleito Governador do Estado do Ceará, e a vitória será linda e emocionante de se ver e continuará sendo de cada brasileiro, de cada cearense. Eu, particularmente me permitirei o direito de celebrar estas duas vitórias com um pouco mais de orgulho e explico porque... Sou filiado ao Partido dos Trabalhadores, militei nestas eleições como nunca tinha feito antes, mesmo contra todo ódio e contra toda propaganda difamatória elitista. Nunca recebi um tostão sequer para atuar como militante, acredito, sigo e faço parte de um PT que tem em suas bases a luta pela justiça e igualdade social, que faz opção preferencial pelos mais pobres e pelos trabalhadores. Defendi os projetos do PT tanto para o governo federal quanto para o governo estadual do Ceará. Defendi as causas e, em muitos casos, me calei e aceitei com resignação alianças que, como militante, nunca entendi e aceitei... Mas acolhi, consciente de que nem toda política partidária deve ser, absolutamente, personalista e individual...

Hoje, domingo, 26 de outubro de 2015, depois de ver e celebrar a vitória dos projetos políticos que ajudei a eleger, não me curvo ao sentimento de dever cumprido. Muito pelo contrário, penso que minha luta como educador e militante continua, contribuindo no debate político para colhermos tudo aquilo que semeamos na campanha. Exatamente por isso, quero começar (ou dar continuidade, que seja...) a essa luta dando uma contribuição como educador.

Durante nossa campanha percebi muitos discursos e propagandas sobre nossa educação brasileira e cearense. É inegável os avanços na educação do Brasil e do Ceará, das propostas de escolas de tempo integral e de formação técnica, do acesso democrático à universidade e tantos outros projetos que contribuem para o crescimento da educação de nosso país. Como educador compartilho e contribuo com esse processo, de seus resultados e avanços.

Porém, ao mesmo tempo, me preocupa a dicotomia que se afirma entre formação técnica x formação regular (particularmente de humanidades), consequentemente a omissão sobre um debate coletivo que busque garantir a qualidade de nossa educação básica regular em detrimento de uma priorização da formação tecnicista. Digo omissão, pois o discurso de promoção da formação técnica parece diminuir a formação regular. Não tenho, absolutamente, nada contra a formação técnica, pelo contrário, reconheço sua necessidade para um país em desenvolvimento econômico, como é o caso do Brasil e do Estado do Ceará. O que me preocupa é a hegemonia de um discurso que assume uma postura de preponderância de uma em relação à outra, mesmo que de forma não intencional.

A história tem mostrado que, dentro da esfera pública, quando se estabelece um dualismo entre dois modelos de serviço público, tende-se a privilegiar um em relação ao outro. Bem, estamos falando de dois modelos de educação, o tecnicista e o regular. Tenho plena certeza da teoria que diz sobre a necessidade de integrar as duas propostas. Os modelos de escolas profissionalizantes em nosso Estado têm mostrado isso, mas ainda, na prática educacional, ainda não da forma ideal que precisamos. A diferença salarial entre professores técnicos e da base comum ainda é grande e injusta. A grade curricular e a proposta pedagógica tecnicista e quantitativa parece preocupar mais que a humanística e qualitativa. É evidente que precisamos de uma reforma curricular, mas esta não deve ser feita com a afirmação deste dualismo excludente.

Hoje, no Brasil e no Ceará formamos, todos os anos, milhares de jovens com formação técnica para o mercado de trabalho. E isso é muito bom! Mas os mesmos profissionais que saem de nossas escolas e institutos técnicos estão saindo mais humanizados?! Como educador e professor lhes afirmo que não, pelo menos da forma como nossa infante democracia exige. E digo isso a partir de minha prática docente, como educador da área de ciências humanas. Desde os recursos e acompanhamento pedagógico dos educadores desta área, até o interesse do educando com essas disciplinas, percebo uma contradição institucional que estabelece prioridades estatísticas e esquece da qualidade do processo educativo em nossas escolas públicas. Há, no ensino básico e médio profissionalizante público brasileiro, um perigo acadêmico: o de estarmos priorizando a quantidade da formação tecnicista e esquecendo a qualidade da formação humanística. E isso terá (se já não estiver tendo) graves consequências para a democracia brasileira. Sabemos que o tecnicismo pode se tornar uma ferramenta eficaz para a afirmação da exclusão social e do estabelecimento de classes que se autodestroem no mercado e no modelo capitalista vigente. Não basta somente formar tecnicamente, é preciso lançar no mercado de trabalho um jovem consciente de seus direitos e deveres, humanamente consciente/crítico e livre, para ajudar na construção da sociedade igualitária que precisamos. E a educação pode se tornar uma arma poderosíssima, seja para afirmar a consciência crítica e livre ou, contraditoriamente, para legitimar a segregação em todos os níveis...

Como educador, quero alertá-los para este perigo. Sou parte do projeto político que tem em suas bases o diálogo democrático, a crítica constante e a liberdade de expressão. Hoje posso rasgar o peito para afirmar que este modelo está representado no Brasil, por você Dilma e no Ceará, por você Camilo e que sou parte dele. Por isso, esta carta está para além de ser uma mera formalidade, ela é - pelo menos para mim - o primeiro atestado de afirmação do poder político popular e do meu protagonismo como educador na construção do Brasil e do Ceará que precisamos, junto com vocês Camilo e Dilma.

Um grande e fraterno abraço, com paz e aquela esperança insistente,

José Wilson Correa Garcia
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