segunda-feira, 30 de julho de 2012

DÁ-NOS TUA PAZ

Um poesia de Pedro Casaldáliga que sempre ajuda a alimentar a Vida em horas críticas onde a falta de esperança e sentido parecem nos engolir com sua boca enorme. Instantes em que desejamos aquela Paz misteriosa que brota do alto e se enraiza neste chão que a gente pisa com os pés descalsos...


Dá-nos, Senhor, aquela Paz estranha
que brota em plena luta
como uma flor de fogo;
que rompe em plena noite
como um canto escondido;
que chega em plena morte
como um beijo esperado.

Dá-nos a Paz dos que caminham sempre,
nus de toda vantagem,
vestidos pelo vento da Esperança.

Aquela Paz dos pobres,
vencedores do medo.
Aquela Paz dos livres,
amarrados à vida.

A Paz que se partilha na igualdade,
como a Água e a Hóstia.

A Paz do Reino, que vem vindo,
inviável e certo.

Dá-nos a Paz, a outra Paz, a tua,
Tu que és nossa Paz!
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domingo, 8 de julho de 2012

CONSERVAÇÃO DO INSTANTE

Como é difícil viver o instante presente
Infinito... Eterno!!!

Pensar no futuro,
no que poderíamos nos tornar,
no que poderíamos sentir
ou deixar de sentir
parece mais seguro.
E a busca absoluta pela segurança
pode me afastar de ti,
por que já não serei mais capaz
de viver o instante como tudo que tenho de verdade.
Mas estarei, cega e inutilmente,
buscando aquilo que não me pertence,
aquilo que não sou,
aquilo que não é infinitamente eterno...

Renuncio a tudo que cai sobre mim
como uma realidade “difícil”, “segura”
e sinto sua existência que me arrebata,
como a eternidade do instante do Mar
que, incessantemente,
insistentemente,
leva e traz seus Rituais...

Esta é a sua ressurreição...
Esta é a minha ressurreição...
Isto é aquilo que faz de nossos corpos,
amando intensamente,
viverem “para que a vida se renove”...
até que sejamos capazes
de conservar – na lágrima –
aquilo que parece extrapolar nossos próprios limites.

Ah, sua Conservação!!!
Ela me ensinou o instante presente
Infinito, Eterno...
aquilo que é o essencial de nós,
de tudo que está entre nós e,
como no Mar e seus Rituais,
falam de uma eternidade
misteriosamente simples
por que é instante vivido,
inundado delicadamente
de Sopros, Surpresas, e Poesia...

José Wilson Correa Garcia
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sexta-feira, 6 de julho de 2012

SOBRE A JUSTIÇA NA POLÍTICA BRASILEIRA

      Uma aproximação estética atualizada, de um ponto de vista crítico, da imagem que simboliza a Justiça, aqui no Brasil, daria pano pra manga e seria, no mínimo, interessante. Vamos nos contentar, primeiramente, com a interpretação clássica.
      A primeira protagonista que surge é a deusa grega Têmis, guardiã dos juramentos dos homens e da lei, sempre invocada pelos magistrados nos julgamentos públicos. Na imagem original grega ela aparece com uma balança em uma das mãos. Uma de suas filhas, Diké, a exemplo da mãe, carrega em uma das mãos a balança, mas com o acréscimo da espada na outra. Uns afirmam ser Têmis a deusa da justiça, outros atribuem esse título a Diké. A cultura romana, da qual nossa justiça é diretamente influenciada, assimilou a imagem da justiça a uma mulher (Justitia) com as mesmas características gregas, porém é importante afirmar a diferença conceitual, no que diz respeito à justiça, entre o gênio prático dos romanos e a sabedoria teórica dos gregos.
      Polêmicas estilísticas e históricas a parte, o fato é que até os nossos dias a justiça continua sendo representada e afirmada como uma mulher segundando em uma das mãos a balança, onde se equilibra razão e julgamento; na outra a espada, representando a defesa dessa justiça; e um adereço, ironicamente introduzido por um artista alemão do século XVI, que retirou-lhe a visão colocando nos olhos da imagem uma venda, simbolizando a imparcialidade da justiça. Imparcialidade é diferente de neutralidade. Aquela é necessária, esta não existe... Pode-se deixar de ser imparcial, mas não se pode ser absolutamente neutro, pois há sempre um lado. A questão é: de que lado está a justiça? Enfim...
      Nossa interpretação estético/polítca da Justiça brasileira atual desconstrói radicalmente a influência do gênio prático romano e da sabedoria teórica grega como ideais de Justiça. Pode até ser considerada, do ponto de vista científico e teórico, superficial, mas não lhe poderá ser tirada o caráter prático popular, crítico e, quiçá, irônico/cômico...
      Olhando do ponto de vista do cenário político brasileiro atual, o que tem feito a justiça? Resumindo, ela tem permitido que homens como Fernando Collor de Melo, Paulo Maluf, José Dirceu, Carlos Cachoeira, Demóstenes Torres, e companhia i-limitada (só para citar algumas figuras do cenário nacional – cabe a aproximação local a cada cidadão/eleitor) continuem se perpetuando impunes no poder, na representação do cidadão e na gestão pública.
      É claro que reconhecemos as raríssimas e preciosas exceções jurídicas... Mas, infelizmente, essa é a realidade da justiça eleitoral brasileira. Ela tem em uma das mãos a balança, não para equilibrar a razão e o julgamento, mas para saber de que lado foi colocado mais dinheiro. Ela tem nos olhos a venda, não porque é imparcial, mas porque é cega quando se trata da defesa do bem comum, dos direitos do cidadão mais pobre e, ironicamente, enxerga muito bem quando a balança começa a pesar. Ela tem na outra mão a espada, não para defender o justo julgamento, mas para cortar qualquer possibilidade de julgamento que condene a impunidade daquelas que apertaram a venda e acrescentaram peso em um lado da balança.

Por José Wilson Correa Garcia
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