segunda-feira, 17 de outubro de 2016

ALEXANDRE E O TEMPO DAS ROSAS

O tempo da vida, passa. Mas o tempo do amor não é o mesmo. Quando você partiu, a memória de um passado guardado no coração era como um presente que nunca terminava. E assim continua sendo. Eu sei que você não gosta que soframos, mas é inevitável, pois o tempo da saudade também é diferente. Ele não passa, assim como a dor da sua partida que para nós é perda, aí no céu é conquista. Você sabe que a gente é meio paranoico pra essa questão do tempo. Lembra que você nunca gostava de se atrasar pra nada? Nem de se adiantar... Pois é. Fico imaginando você agoniado aí no céu, com vontade de correr atrás de uma bola pra lá e pra cá. Deve ser difícil se contentar em apenas voar... É estranho, quando a gente tá aqui na terra sonha em voar. Quando está aí no céu, como você, sonha em sentir o chão. Diga pra Deus dar um jeito nisso. Eu sei que podemos fazer daqui, mas prefiro que você faça daí, sem pressa, porque não há tempo com que se preocupar ou se perder.

Não sei se você lembra, mas a gente marca o tempo aqui na terra. Hoje faz 11 meses que você se transformou em anjo. O local onde te plantamos está verdinho, lindo de se ver. Celeste, mesmo escondido, sempre está por lá. Ela, assim como eu, estamos aprendendo a olhar praquele chão com cuidado e amor. Virgínia e papai, não foram ainda, talvez com medo, por causa da dor, de não conseguirem ver a vida que cresce. Mas sei que eles irão.

Como deve ter visto, Celeste levou mamãe. Ela sofreu, mesmo que a gente não consiga entender a extensão do sofrimento dela. No dia, ela se debruçou sobre o chão onde te plantamos e tentava falar contigo, como se fala com uma criança. Acho que, dentre todos nós, mamãe é a que mais, misteriosa e dolorosamente, vive o mistério da sua partida sem se apegar ao tempo. Para ela você continua sendo o bebezinho, o Xandinho dela. Espero que contar isso não te chateie ou te faça sofrer. Apesar de compreender que você sabe, uso como último recurso as palavras, porque sei que através delas você consegue sentir os pensamentos e compreender os sentimentos mais profundos de cada um que as lê, mesmo com nossos limites humanos. Por isso, acolha como um desabafo.

Uma coisa me chamou atenção, as rosas que crescem lá estão lindas. Fiquei pensando que o tempo delas é determinado pelo tempo do sol, assim como seu tempo aí em cima é determinado pelo tempo de Deus. Elas estão lindas porque descobriram que a vida delas só tem sentido se se nutrem do chão onde estão plantadas da mesma forma como se abrem pra receber a luz que irradia do sol. É curioso como a gente também tem aprendido a conservar a memória do tempo que passamos juntos aqui no chão da nossa história como alimento pra vida, assim como sua chegada aí em cima se tornou motivo pra se nutrir com as coisas do céu. Seja aqui ou aí, você continua sendo alimento para todos nós.
 
Há rosas abertas e há rosas ainda escondidas dentro de um botão que, a seu tempo, se abrirá para contemplar o infinito mistério da vida. Seu tempo, meu irmão, se mistura ao tempo de cada uma dessas rosas, que somos nós. Você que está aí, mais perto de Deus do que nós, abrace-nos sempre com suas recordações e não se esqueça de que, aqui, continuamos nutrindo nossas vidas com o melhor que de ti ficou...
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