quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

O FECHAMENTO DA CAJU, DA IGREJA E DOS JESUÍTAS

Tenho acompanhado de longe – mas nem por isso distante – e com perplexidade os acontecimentos que levaram o fechamento arbitrário da CAJU, em Goiânia.


Para quem não conhece, a Casa da Juventude (CAJU) se tornou, durante 30 anos, um Centro de Capacitação e Formação Juvenil de referência Local, Nacional e Internacional. Ali acontecia formação para Jovens, Pastorais e Movimentos de diversos segmentos da Igreja e da Sociedade, em praticamente todos os âmbitos do universo juvenil: litúrgico/religioso, político, artístico, tecnológico, científico, etc. Mais ainda:, apesar de estar localizada em Goiânia, GO a CAJU esteve presente em quase todos os espaços de assessoria e formação de forma itinerante, seja no Brasil ou fora dele. Mas não quero falar da CAJU como um espectador estatístico. Não! Quero falar da CAJU como homem, como pessoa que foi transformado por sua missão, quero recordar nomes que me marcaram profunda e positivamente. Mas também quero lembrar nomes que, agora, são motivo de vergonha e tristeza...


Fui Jesuíta durante mais de 10 anos. Por uma série de circunstâncias que não vale a pena me estender agora, me desliguei da Companhia de Jesus e hoje sou Professor, amo e sou amado pela Gabriela, com muito orgulho e sou muito feliz por isso tudo. Durante o tempo em que estive na Ordem dos Jesuítas, por opção pessoal e pastoral, estive próximo do serviço a juventude, primeiramente através do Instituto de Pastoral da Juventude do Regional Leste II da CNBB, em Belo Horizonte (IPJ Leste II). Evidentemente, os trabalhos que assumíamos, nos colocaram em contato direto com outras pessoas, centros e institutos espalhados pelo Brasil. Assim conheci as primeiras pessoas que atuavam na CAJU. Depois, também por iniciativa pessoal, tive a oportunidade de fazer um Curso de Pós-graduação em Adolescência e Juventude no Mundo Contemporâneo, que acontecia e era articulado pela própria CAJU. Ali pude experimentar, verdadeiramente, o que é a CAJU. Ali conheci a Carmem, a Edina, o Lourival, a Jaciara e tantas outras e outros que faziam da CAJU um sonho possível e necessário de ser realizado. Nunca, em anos como jesuíta, tinha encontrado uma obra com tanto protagonismo leigo e dedicação à sua missão...


Como Jesuíta, e pelo fato de a CAJU ser uma obra ligada à Companhia de Jesus, quis saber quem eram os Jesuítas que, naquele momento, estavam por trás de toda aquela obra. É que geralmente, nas obras dos Jesuítas, normalmente eles definem e determinam quase tudo dentro dela, pois como ouvi muito dizer, “quem tem poder tem controle”. Para meu espanto, encontrei, como diretor, Pe. Geraldo Labarrère Nascimento, uma figura incrivelmente próxima, jovial e espantosamente amiga, muito diferente dos outros jesuítas da Província Centro-leste, que assumem um estereótipo de “intocáveis”, muito diferente dos Jesuítas, por exemplo, do Nordeste. Na segunda etapa descobri que o Pe. Geraldo não era mais o diretor, e sim a Carmem Lúcia Teixeira. Sim, uma mulher (diga-se de passagem, capacitadíssima) como diretora de uma obra dos Jesuítas, algo que nunca tinha visto, principalmente ali, naquela região. Também, tinha o Pe. Hilário Dick, que apesar de ser da Província da Sul (outro que tinha tudo para ser um “intocável”), esteve muito ligado à CAJU e naqueles dias estava facilitando uma disciplina na pós-graduação. Para quem conhece o Pe. Hilário, ele dispensa apresentações. É uma figura psicodélica, que fala da juventude como uma poesia constante, diária e necessária, que é como um sino que alerta constantemente a Igreja no Brasil da necessidade de ter um olhar e uma ação diferenciada para a Juventude. Pe. Geraldo e Pe. Hilário foram os dois Jesuítas que me ensinaram o que os Jesuítas deveriam fazer com suas obras, mas não fazem...


Hoje, quando percebo todo o desfecho que levou o fechamento da CAJU, apesar de sentir e de compartilhar a dor e a indignação de muitos que tem aquela casa como referência, confesso que não fico tão admirado assim. Meu espanto por encontrar, na CAJU, uma autonomia e um protagonismo leigo era, na verdade, um presságio. Sim, para mim o desfecho da CAJU é a confirmação de uma postura que, desgraçadamente, se enraizou e se afirmou na Igreja: o autoritarismo nada evangélico.


São pouquíssimos os bispos e padres que, hoje, tem a intenção de formar gente que pense por si, que se sinta verdadeiramente Igreja de Jesus Cristo... Pe. Geraldo, por exemplo, é um desses pastores. Seu sucessor, Pe. Nilson Marostica, é radicalmente o inverso e quando fiquei sabendo que ele tinha sido destinado para substituir o Pe. Geraldo, pensei no meu coração, “Ai vem coisa...”, mas preferi guardar esses acontecimentos no coração, como Maria. Entendo perfeitamente que Pe. Nilson, junto com o Provincialato dos jesuítas da Província Centro-leste, Pe. Smida e Pe. Carlos Fritzen, tenham argumentos econômicos e administrativos/filantrópicos para justificar essa atitude arbitrária e autoritária de fechar a CAJU. Mas no coração de quem vivenciou e entendeu a missão da CAJU, não existe justificativa possível... No fim das contas, aí está, mais uma vez, a afirmação de um modelo de igreja e de trabalho com a juventude que tem o controle como centro.


A CAJU fechou? Os que compartilharam com essa arbitrariedade e irresponsabilidade (sim, irresponsabilidade, pois nenhuma obra que funcionou com mais de 30 anos de projeto, é simplesmente fechada tão rápido quando inconseqüentemente), dirão que não, a CAJU continuará, mas em outra linha, em outra perspectiva de trabalho... Os que entendem a CAJU profundamente, afirmam acertadamente que ela fechou, sim. E fechou porque a CAJU não era somente a obra física, mas era a missão, o protagonismo, a autonomia... coisas tão desejadas e queridas pelos últimos documentos das Congregações Gerais e Normas dos Jesuítas. Mas quem perde não é somente a juventude brasileira e latino-americana, que não terão mais um centro de referência e formação, com tanta experiência e material sistematizado e publicado. Quem perde também é a igreja...


Apesar de tudo, ainda me sinto Igreja de Jesus. E como tal sofro porque sinto que, institucionalmente, a Igreja e os jesuítas perdem, em muito, com atitudes como essa. Estão se afastando do mundo. Acham que o punhado de jovens que conseguem controlar dentro de suas obras é o suficiente para a missão que Deus os confia... Mas não é...


A CAJU fechou? Institucionalmente, sim. E, com ela, também fechou a Igreja, fechou também os Jesuítas... Sinto e sei, contudo, que a CAJU também continua, no coração daquelas e daqueles que entenderam e viveram sua missão de levar para o mundo a mensagem do jovem Jesus de Nazaré... Isso não se fecha!



José Wilson Correa Garcia.
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domingo, 19 de agosto de 2012

VERDADE


Porque a verdade é sempre dura?
Porque expressá-la
de forma pessoal, clara e sincera
incomoda tanto?

A Verdade!
Ela só pode ser o que diz,
aquilo que é pessoalmente óbvio.
Claro, de um pondo de vista realmente particular.

Nela não há fantasias,
não há projeções,
não há ilusões.
Há, talvez, um pouco de Paixão.
E talvez esta seja necessária.
Quem sabe a própria verdade
só seja possível com Paixão!?

Toda Verdade deve ser respeitada
seja lá qual for seu peso,
seja lá qual for sua força,
seja lá qual for sua verdade.
Ela pode parecer vergonhosa
talvez por revelar o óbvio
encarcerado em nossas consciências.

Consciência corrompida,
oprimida, limitada, convidada.

Sim, a Verdade é um convite.
Convite à liberdade.

Liberdade da Consciência.
Liberdade do Coração.
Liberdade da Alma.

Ela dói tanto para quem ouve,
quanto para quem fala.
Talvez por que nenhum dos dois
sejam donos dela.
A Verdade é uma realidade Revelada
que não nos pertence.
Talvez por isso doa tanto.

José Wilson
Belo Horizonte,
outono de 2006.
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domingo, 12 de agosto de 2012

Martin Heidegger: O Caminho do Campo

 No primeiro dia de aula, quero refletir com meus estudantes este texto de Martin Heidegger, filósofo Alemão, contemporâneo desde nosso tempo de transformações. É um texto profundo - que exige uma leitura apurada, ruminada, constante - a cerca do Conhecimento. Mais do que um ato de formalidades e trasmição de conteúdos, o Conhecimento deve ser uma experiência vivida...
Eis o texto!
      Do portão do jardim do Castelo estende-se até as planícies úmidas do Ehnried. Sobre o muro, as velhas tílias do jardim acompanham-no com o olhar, estenda ele, pelo tempo da Páscoa, seu claro traço entre as sementeiras que nascem e as campinas que despertam, ou desapareça, pelo Natal, atrás da primeira colina, sob turbilhões de neve. Próximo da cruz do campo, dobra em busca da floresta. Saúda, de passagem, à sua orla, o alto carvalho que abriga um banco esquadrado na madeira crua.
      Nele repousava, as vezes, este ou aquele texto dos grandes pensadores, que um jovem desajeitado procurava decifrar. Quando os enigmas se acotovelavam e nenhuma saída se anunciava, o caminho do campo oferecia boa ajuda: silenciosamente acompanha nossos passos pela sinuosa vereda, através da amplidão da terra agreste.
      O pensamento sempre de novo as voltas com os mesmos textos ou com seus próprios problemas, retorna à vereda que o caminho estira através da campina.
      Sob os pés, ele permanece tão próximo daquele que pensa quanto do camponês que de madrugada caminha para a ceifa.
      Mais freqüente com o correr dos anos, o carvalho à beira do caminho leva a lembrança aos jogos da infância e as primeiras escolhas. Quando, as vezes, no coração da floresta tombava um carvalho sob os golpes do machado, meu pai logo partia, atravessando a mataria e as clareiras ensolaradas, à procura do estéreo de madeira destinado à sua oficina. Era lá que trabalhava solícito e concentrado, nos intervalos de sua ocupação junto ao relógio do campanário e aos sinos, que, um e outros, mantêm relação própria com o tempo e a temporalidade.
      Os meninos, porém, recortavam seus navios na casca do carvalho. Equipados de banco para o remador e de timão, flutuavam os barcos no Mettenbach ou no lago da escola. Nesses folguedos, as grandes travessias atingiam facilmente seu termo e facilmente recobravam o porto. A dimensão de seu sonho era protegida por um halo, apenas discernível, pairando sobre todas as coisas. O espaço aberto era-lhe limitado pelos olhos e pelas mãos da mãe. Tudo se passava como se sua discreta solicitude velasse sobre todos os seres.
      Essas travessias de brinquedos nada podiam saber das expedições em cujo curso todas as margens ficam para trás. Entrementes, a consistência e o odor do carvalho começavam a falar, já perceptivelmente, da lentidão e da constância com que a árvore cresce. O carvalho mesmo assegurava que só semelhante crescer pode fundar o que dura e frutifica; que crescer significa: abrir-se à amplidão dos céus, mas também deitar raízes na obscuridade da terra; que tudo o que é verdadeiro e autêntico somente chega à maturidade se o homem for simultaneamente ambas as coisas: disponível ao apelo do mais alto céu e abrigado pela proteção da terra que oculta e produz.
      Isto o carvalho repete sempre ao caminho do campo, que diante dele corre seguro de seu destino. O caminho recolhe aquilo que tem seu ser em torno dele; e dá a cada um dos que o percorrem aquilo que é seu. Os mesmos 2 campos, as mesmas encostas da colina escoltam o caminho em cada estação, próximos dele com proximidade sempre nova. Quer a cordilheira dos Alpes acima das florestas se esbata no crepúsculo da tarde, quer de onde o caminho ondeia entre os outeiros, a cotovia de manhã se lance ao céu de verão, quer o vento leste sopre a tempestade do lado em que jaz a aldeia natal da mãe, quer o lenhador carregue, ao cair da noite, seu feixe de gravetos para a lareira, quer o carro da colheita se arraste em direção ao celeiro, oscilando pelos sulcos do caminho, quer apanhem as crianças as primeiras primaveras na ourela do prado, quer passeie a neblina ao longo do dia sua sombria massa sobre o vale, sempre e de todos os lados fala, em torno do caminho do campo, o apelo do Mesmo.
      O Simples guarda o enigma do que permanece e do que e grande. Visita os homens inesperadamente, mas carece de longo tempo para crescer e amadurecer. O dom que dispensa está escondido na inaparência do que é sempre o Mesmo. As coisas que amadurecem e se demoram em torno do caminho, em sua amplitude e em sua plenitude dão o mundo. Como diz o velho mestre Eckhart, junto a quem aprendemos a ler e a viver, é naquilo que sua linguagem não diz que Deus e verdadeiramente Deus.
      Todavia, o apelo do caminho do campo fala apenas enquanto homens nascidos no ar que o cerca forem capazes de ouvi-lo. São servos de sua origem, não escravos do artifício.
      Em vão o homem através de planejamentos procura instaurar uma ordenação no globo terrestre, se não for disponível ao apelo do caminho do campo. O perigo ameaça, que o homem de hoje não possa ouvir sua linguagem. Em seus ouvidos retumba o fragor das máquinas que chega a tomar pela voz de Deus. Assim o homem se dispersa e se torna errante. Aos desatentos o Simples parece uniforme. A uniformidade entedia. Os entediados só vêem monotonia a seu redor. O Simples desvaneceu-se. Sua força silenciosa esgotou-se.
      O número dos que ainda conhecem o Simples como um bem que conquistaram, diminui, não há dúvida, rapidamente. Esses poucos, porém, serão, em toda a parte, os que permanecem. Graças ao tranqüilo poder do caminho do campo, poderão sobreviver um dia às forças gigantescas da energia atômica, que o cálculo e a sutileza do homem engendraram para com ela entravar sua própria obra.
      O apelo do caminho do campo desperta um sentido que ama o espaço livre e que, em momento oportuno, transfigura a própria aflição na serenidade derradeira. Esta opõe-se à desordem do trabalho pelo trabalho: procurado apenas por si o trabalho promove aquilo que nadifica.
      Do caminho do campo ergue-se, no ar variável com as estações, uma serenidade que sabe, e cuja face parece muitas vezes melancólica.
      Esta gaia ciência é uma sageza sutil. Ninguém a obtém sem que já a possua. Os que a têm, receberam-na do caminho do campo. Em sua senda cruzam-se a tormenta do inverno e o dia da messe, a irrupção turbulenta da primavera e o ocaso tranqüilo do outono; a alegria da juventude e a sabedoria da maturidade nela surpreendem-se mutuamente. Tudo, porém, se insere placidamente numa única harmonia, cujo eco o caminho do campo em seu silêncio leva de um para outro lado.
      A serenidade que sabe é uma porta abrindo para o eterno. Seus batentes giram nos gonzos que um hábil ferreiro forjou um dia com os enigmas da existência.
      Das baixas planícies do Ehnried, o caminho retorna ao jardim do Castelo. Galgando a última colina sua estreita faixa transpõe uma depressão e chega 3 ás muralhas da cidade. Uma vaga luminosidade desce das estrelas e se espraia sobre as coisas. Atrás do castelo alteia-se a torre da igreja de São Martinho. Vagarosamente, quase hesitantes, soam as badaladas das onze horas, desfazendo-se no ar noturno. O velho sino, em suas cordas outrora mãos de menino se aqueciam rudemente, treme sob o martelo das horas, cuja silhueta jocosa e sombria ninguém esquece.
      Após a última batida, o silêncio ainda mais se aprofunda. Estende-se até aqueles que foram sacrificados prematuramente em duas guerras mundiais. O Simples torna-se ainda mais simples. O que é sempre o Mesmo desenraiza e liberta. O apelo do caminho do campo é agora bem claro.
      É a alma que fala? Fala o mundo? Ou fala Deus?
      Tudo fala da renúncia que conduz ao Mesmo. A renúncia não tira. A renúncia dá. Dá a força inesgotável do Simples. O apelo faz-nos de novo habitar uma distante Origem, onde a terra natal nos é devolvida.

(Der Feldweg – 1949) In Gesamtausgabe Nº 013 – Aus der Erfahrung des Denken (Sobre a Experiência do Pensar) Tradução de Ermildo Stein

FONTE: Philosopher's Desk.

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segunda-feira, 30 de julho de 2012

DÁ-NOS TUA PAZ

Um poesia de Pedro Casaldáliga que sempre ajuda a alimentar a Vida em horas críticas onde a falta de esperança e sentido parecem nos engolir com sua boca enorme. Instantes em que desejamos aquela Paz misteriosa que brota do alto e se enraiza neste chão que a gente pisa com os pés descalsos...


Dá-nos, Senhor, aquela Paz estranha
que brota em plena luta
como uma flor de fogo;
que rompe em plena noite
como um canto escondido;
que chega em plena morte
como um beijo esperado.

Dá-nos a Paz dos que caminham sempre,
nus de toda vantagem,
vestidos pelo vento da Esperança.

Aquela Paz dos pobres,
vencedores do medo.
Aquela Paz dos livres,
amarrados à vida.

A Paz que se partilha na igualdade,
como a Água e a Hóstia.

A Paz do Reino, que vem vindo,
inviável e certo.

Dá-nos a Paz, a outra Paz, a tua,
Tu que és nossa Paz!
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domingo, 8 de julho de 2012

CONSERVAÇÃO DO INSTANTE

Como é difícil viver o instante presente
Infinito... Eterno!!!

Pensar no futuro,
no que poderíamos nos tornar,
no que poderíamos sentir
ou deixar de sentir
parece mais seguro.
E a busca absoluta pela segurança
pode me afastar de ti,
por que já não serei mais capaz
de viver o instante como tudo que tenho de verdade.
Mas estarei, cega e inutilmente,
buscando aquilo que não me pertence,
aquilo que não sou,
aquilo que não é infinitamente eterno...

Renuncio a tudo que cai sobre mim
como uma realidade “difícil”, “segura”
e sinto sua existência que me arrebata,
como a eternidade do instante do Mar
que, incessantemente,
insistentemente,
leva e traz seus Rituais...

Esta é a sua ressurreição...
Esta é a minha ressurreição...
Isto é aquilo que faz de nossos corpos,
amando intensamente,
viverem “para que a vida se renove”...
até que sejamos capazes
de conservar – na lágrima –
aquilo que parece extrapolar nossos próprios limites.

Ah, sua Conservação!!!
Ela me ensinou o instante presente
Infinito, Eterno...
aquilo que é o essencial de nós,
de tudo que está entre nós e,
como no Mar e seus Rituais,
falam de uma eternidade
misteriosamente simples
por que é instante vivido,
inundado delicadamente
de Sopros, Surpresas, e Poesia...

José Wilson Correa Garcia
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sexta-feira, 6 de julho de 2012

SOBRE A JUSTIÇA NA POLÍTICA BRASILEIRA

      Uma aproximação estética atualizada, de um ponto de vista crítico, da imagem que simboliza a Justiça, aqui no Brasil, daria pano pra manga e seria, no mínimo, interessante. Vamos nos contentar, primeiramente, com a interpretação clássica.
      A primeira protagonista que surge é a deusa grega Têmis, guardiã dos juramentos dos homens e da lei, sempre invocada pelos magistrados nos julgamentos públicos. Na imagem original grega ela aparece com uma balança em uma das mãos. Uma de suas filhas, Diké, a exemplo da mãe, carrega em uma das mãos a balança, mas com o acréscimo da espada na outra. Uns afirmam ser Têmis a deusa da justiça, outros atribuem esse título a Diké. A cultura romana, da qual nossa justiça é diretamente influenciada, assimilou a imagem da justiça a uma mulher (Justitia) com as mesmas características gregas, porém é importante afirmar a diferença conceitual, no que diz respeito à justiça, entre o gênio prático dos romanos e a sabedoria teórica dos gregos.
      Polêmicas estilísticas e históricas a parte, o fato é que até os nossos dias a justiça continua sendo representada e afirmada como uma mulher segundando em uma das mãos a balança, onde se equilibra razão e julgamento; na outra a espada, representando a defesa dessa justiça; e um adereço, ironicamente introduzido por um artista alemão do século XVI, que retirou-lhe a visão colocando nos olhos da imagem uma venda, simbolizando a imparcialidade da justiça. Imparcialidade é diferente de neutralidade. Aquela é necessária, esta não existe... Pode-se deixar de ser imparcial, mas não se pode ser absolutamente neutro, pois há sempre um lado. A questão é: de que lado está a justiça? Enfim...
      Nossa interpretação estético/polítca da Justiça brasileira atual desconstrói radicalmente a influência do gênio prático romano e da sabedoria teórica grega como ideais de Justiça. Pode até ser considerada, do ponto de vista científico e teórico, superficial, mas não lhe poderá ser tirada o caráter prático popular, crítico e, quiçá, irônico/cômico...
      Olhando do ponto de vista do cenário político brasileiro atual, o que tem feito a justiça? Resumindo, ela tem permitido que homens como Fernando Collor de Melo, Paulo Maluf, José Dirceu, Carlos Cachoeira, Demóstenes Torres, e companhia i-limitada (só para citar algumas figuras do cenário nacional – cabe a aproximação local a cada cidadão/eleitor) continuem se perpetuando impunes no poder, na representação do cidadão e na gestão pública.
      É claro que reconhecemos as raríssimas e preciosas exceções jurídicas... Mas, infelizmente, essa é a realidade da justiça eleitoral brasileira. Ela tem em uma das mãos a balança, não para equilibrar a razão e o julgamento, mas para saber de que lado foi colocado mais dinheiro. Ela tem nos olhos a venda, não porque é imparcial, mas porque é cega quando se trata da defesa do bem comum, dos direitos do cidadão mais pobre e, ironicamente, enxerga muito bem quando a balança começa a pesar. Ela tem na outra mão a espada, não para defender o justo julgamento, mas para cortar qualquer possibilidade de julgamento que condene a impunidade daquelas que apertaram a venda e acrescentaram peso em um lado da balança.

Por José Wilson Correa Garcia
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sexta-feira, 11 de maio de 2012

Tempos de crise – tempos de cuidado. Artigo de Leronardo Boff

      "O cuidado é exigido em praticamente todas as esferas da existência, desde o cuidado do corpo, da vida intelectual e espiritual, da condução geral da vida até ao se atravessar uma rua movimentada. Como já observava o poeta romano Horácio, “o cuidado é aquela sombra que  nunca nos abandona porque somos feitos a partir do cuidado” escreve Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escritor.
      Citando documentos de repercussão internacional, ele afirma que "a ética do cuidado se aplica tanto a nivel internacional como  a níveis nacional e individual; nenhuma nação é auto-suficiente; todos lucrarão com a sustentabilidade mundial e todos estarão ameaçados se não conseguirmos atingi-la".

Eis o artigo. Fonte: IHU

      O tema do cuidado é, nos últmos tempos, cada vez mais recorrente na reflexão cultural. Primeiramente, foi veiculado pela medicina e pela enfermagem, pois representa a ética natural destas atividades. Depois foi assumido pela educação e pela ética e feito paradigma por filósofas e teólogas feministas especialmente norteamericanas. Veem nele um dado essencial da dimensão da anima, presente no homem e na mulher. Produziu e continua produzindo uma acirrada discussão especialmente nos EUA entre a ética de base patriarcal centrada no tema da justiça e a ética de base matriarcal assentada no cuidado essencial.

      Ganhou força especial na discussão ecológica, constituindo uma peça central da Carta da Terra. Cuidar do meio-ambiente, dos recursos escassos, da natureza e da Terra se tornaram imperativos do novo discurso. Por fim, viu-se o cuidado como definição esencial do ser humano, como é abordado  por Martin Heidegger em Ser e Tempo recolhendo uma tradição que remonta aos gregos, aos romanos e aos primeiros pensadores cristãos como São Paulo e Santo Agostinho.

      Constata-se outrossim que a categoria cuidado vem ganhando força sempre que emergem situações críticas. É ele que impede que as crises se transformem em tragédias fatais.

      A Primeira Grande Guerra (1914-1918), desencadeada entre paises cristãos, destruira o glamour ilusório da era vitoriana e produziu profundo desamparo metafísico. Foi quando Martin Heidegger (1889-1976) escreveu seu genial Ser e Tempo (1929), cujos parágrafos centrais (§ 39-44) são dedicados ao cuidado como ontologia do ser humano.

      Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), despontou a figura do pediatra e psicólogo D. W. Winnicott (1896-1971) encarregado pelo governo inglês para acompanhar crianças órfãs ou vítimas dos horrorres dos bombardeios nazistas sobre Londres. Desenvolveu toda uma reflexão e uma prática ao redor dos conceitos de cuidado (care), de preocupação pelo outro (concern) e de conjunto de apoios a crianças ou a pessoas vulneráveis (holding), aplicáveis também aos processos de crescimentoz e de educação.

      Em 1972 o Clube de Roma lançou o alarme ecológico sobre o estado doentio da Terra. Identificou a causa principal: o nosso padrão de desenvolvimento, consumista, predatório, perdulário e totalmente sem cuidado para com os recursos escassos da natureza e os dejetos produzidos. Depois de vários encontros organizados pela ONU a partir dos anos 70 do século passado, chegou-se à proposta do um  desenvolvimento sustentável, como expressão  do cuidado humano pelo meio ambiente mas centrado especialmente no aspecto econômico.

      O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) elaboraram em 1991 uma estratégia minuciosa para o futuro do planeta sob o signo Cuidando do Planeta Terra (Caring for the Earth 1991). Ai se diz: A ética do cuidado se aplica tanto a nivel internacional como  a níveis nacional e individual; nenhuma nação é auto-suficiente; todos lucrarão com a sustentabilidade mundial e todos estarão ameaçados se não conseguirmos atingi-la.

      Em março de 2000, recolhendo esta tradição, termina em Paris, depois de oito anos de trabalho a nível mundial, a redação da Carta da Terra. A categoria sustentabilidade, cuidado ou o modo sustentável de viver constituem os dois eixos articuladores principais do novo discurso ecológico, ético e espiritual. Em 2003 a UNESCO assumiu oficialmente a Carta da Terra e a apresentou como um substancial instrumento pedagógico para a construção responsável de nosso futuro comum.

      Em 2003 os Ministros ou Secretários do meio ambiente dos países da América Latina e do Caribe elaboram notável documento Manifesto pela vida, por uma ética da sustentabilidade onde a categoria cuidado é incorporada na idéia de um desenvolvimento para que seja efetivamente sustentável e radicalmente humano.

      O cuidado está especialmente presente nas duas pontas da vida: no nascimento e na morte. A criança sem o cuidado não existe. O moribundo precisa do cuidado para sair decentemente  desta vida.

      Quando desponta alguma crise num grupo gerando  tensões e divisões, é a sabedoria do cuidado  o caminho mais adequado para ouvir as partes, favorecer o diálogo e buscar convergências. O cuidado se impõe quando irrompe alguma crise de saúde que exige internação hospitalar. O cuidado é posto em ação por parte dos médicos, médicas, dos enfermeiros e enfermeiras, decidindo sobre o que melhor fazer.

      O cuidado é exigido em praticamente todas as esferas da existência, desde o cuidado do corpo, da vida intelectual e espiritual, da condução geral da vida até ao se atravessar uma rua movimentada. Como já observava o poeta romano Horácio, “o cuidado é aquela sombra que  nunca nos abandona porque somos feitos a partir do cuidado”.

      Hoje dada a crise generalizada seja social seja ambiental, o cuidado torna-se imprescindível para preservarmos a integridade da Mãe Terra e salvaguardar a continuidade de nossa espécie e de nossa civilização.             
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segunda-feira, 7 de maio de 2012

Sustentabilidade e Educação.

"Ser humano, Terra e natureza se pertencem mutuamente. Por isso é possível forjar  um caminho de convivência pacífica. É o desafio  da educação", escreve Leonardo Boff, filósofo, teólogo e escritor.

Eis o artigo.
Fonte: IHU.

      A sustentabilidade, um dos temas entrais da Rio+20, não acontece mecanicamente. Resulta de um processo de educação pela qual o ser humano redefine o feixe de relações que entretém com o Universo, com a Terra, com a natureza, com a sociedade e consigo mesmo dentro dos critérios de equilíbrio ecológico, de respeito e amor à Terra e à comunidade de vida, de solidariedade para com as gerações futuras e da construção de  uma democracia sócio-ecológica sem fim.

      Estou convencido de que somente uma processo generalizado de educação pode criar novas mentes e novos corações, como pedia a Carta da Terra, capazes de fazer a revolução paradigmática exigida pelo risco global sob o qual vivemos. Como repetia com freqüência Paulo Freire:”a educação não muda o mundo mas muda as pessoas que vão mudar o mundo”. Agora todas as pessoas são urgidas a mudar. Não temos outra alternativa: ou mudamos ou conheceremos a escuridão.

      Não cabe aqui abordar a educação em seus múltiplos aspectos tão bem formulados em 1996 pela UNESCO: aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver juntos; eu acrescentaria aprender a cuidar da Mãe Terra e de todos os seres.

      Mas este tipo de educação é ainda insuficiente. A  situação mudada do mundo exige que tudo seja ecologizado, isto é, cada saber deve prestar a sua colaboração a fim de proteger a Terra, salvar a vida humana e o nosso projeto planetário. Portanto, o momento ecológico deve  atravessar todos os saberes.

      A 20 de dezembro de 2002 a ONU aprovou uma resolução proclamando os anos de 2005-2014 a Década da educação para o desenvolvimento sustentável. Neste documento se definem 15 perspectivas estratégicas em vista de uma educação para  sustentabilidade. Referiremos algumas:

      Perspectivas socioculturais que incluem: direitos humanos, paz e segurança; igualdade entre os sexos; diversidade cultural e compreensão intercultural; saúde; AIDS; governança global.

      Perspectivas ambientais que comportam: recursos naturais (água, energia, agricultura e    biodiversidade); mudanças climáticas; desenvolvimento rural; urbanização sustentável; prevenção e mitigação de catástrofes.

      Perspectivas econômicas que visam: a redução da pobreza e da miséria; a responsabilidade e a prestação de contas das empresas.

      Como se depreende, o momento ecológico está presente em todas as disciplinas: caso contrário não se alcança uma sustentabilidade generalizada. Depois que irrompeu o paradigma ecológico, nos conscientizamos do fato de que todos somos ecodependentes. Participamos de uma comunidade de interesses com os demais seres vivos que conosco compartem a biosfera. O interesse comum básico é manter as condições para a continuidade da vida e da própria Terra, tida como Gaia. É o fim último da sustentabilidade.     

      A partir de agora a educação deve impreterivelmente incluir as quatro grandes tendências da ecologia: a ambiental, a social, a mental e a integral ou profunda (aquela que discute nosso lugar na natureza). Mais e mais se impõem entre os educadores esta perspectiva: educar para o bem viver  que é a arte de viver em harmonia com a natureza e propor-se repartir equitativamente com os demais seres humanos  os recursos da cultura e do desenvolvimento sustentável.

      Precisamos estar conscientes de que não se trata apenas de introduzir corretivos ao sistema que criou a atual crise ecológica mas de educar para sua transformação. Isto implica superar a visão reducionista e mecanicista ainda imperante e assumir a cultura da complexidade. Ela nos permite ver as interrelações do mundo vivo e as ecodependências do ser humano. Tal verificação exige tratar as questões ambientais de forma global e integrada. Deste tipo de educação se deriva a dimensão ética de responsabilidade e de cuidado pelo futuro comum da Terra e da humanidade. Faz descobrir o ser humano como o cuidador de nossa Casa Comum e o guardião de todos seres. Queremos que a  democracia sem fim (Boaventura de Souza Santos) assuma as características socioecológicas pois só assim será adequada à era ecozóica e responderá às demandas do novo paradigma. Ser humano, Terra e natureza se pertencem mutuamente. Por isso é possível forjar  um caminho de convivência pacífica. É o desafio  da educação.
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quinta-feira, 3 de maio de 2012

Gritos dos/as Excluídos/as 2012


      O Grito dos Excluídos é uma manifestação popular carregada de simbolismo. È um espaço de animação e profecia, sempre aberto e plural de pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos(as).
      O Grito dos(as) Excluídos(as), como indica a própria expressão, constitui-se numa mobilização com três sentidos:
  • denunciar o modelo político e econômico que, ao mesmo tempo, concentra riqueza e renda e condena milhões de pessoas à exclusão social;
  • tornar público, nas ruas e praças, o rosto desfigurado dos grupos excluídos, vítimas do desemprego, da miséria e da fome;
  • propor caminhos alternativos ao modelo econômico neoliberal, de forma a desenvolver uma política de inclusão social, com a participação ampla de todos os cidadãos.
      O Grito se define como um conjunto de manifestações realizadas no Dia da Pátria, 7 de setembro, tentando chamar à atenção da sociedade para as condições de crescente exclusão social na sociedade brasileira. Não é um movimento nem uma campanha, mas um espaço de participação livre e popular, em que os próprios excluídos, junto com os movimentos e entidades que os defendem, trazem à luz o protesto oculto nos esconderijos da sociedade e, ao mesmo tempo, o anseio por mudanças.
      As atividades são as mais variadas: atos públicos, romarias, celebrações especiais, seminários e cursos de reflexão, blocos na rua, caminhadas, teatro, música, dança, feiras de economia solidária, acampamentos – e se estendem por todo o território nacional.
      Em 2012 o Grito dos(as) Excluídos(as) traz como tema: “Queremos um Estado a serviço da Nação, que garanta direitos a toda população!”

Ajude a divulgar e faça parte desta manifestação popular!

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